Pesquisas de boca-de-urna divulgadas duas horas após o início da contagem dos votos do referendo constitucional da Bolívia apontam uma vitória do "Sim", indicando que o país vai adotar a nova Carta Magna proposta pelo governo do presidente Evo Morales. Segundo as pesquisas divulgadas por algumas das principais redes de TV da Bolívia (PAT, Unitel e rede UNO) , a nova Constituição teve apoio de aproximadamente 60% dos eleitores. A pesquisa da rede de TV ATB, que funciona como uma espécie de contagem rápida dos votos, começou apontando uma vantagem menor para o "Sim", de pouco mais de um ponto percentual para o "Sim" (50,6 contra 49,4). Com base em contagem rápida, por amostragem, de todos os votos, entretanto, a TV aponta vitória da mudança constitucional por 58,3% dos votos.
Segundo o jornal "El Deber", publicado na região de Santa Cruz de La Sierra (que faz oposição ao presidente e teve campanha contra a mudança constitucional), a nova Carta teve apoio de 60% da população, e foi acolhida especialmente nos departamentos de La Paz (76% a favor), Oruro e Potosi (com 71% e 70% a favor da mudança, respectivamente).
Santa Cruz e Beni, regiões que buscam maior autonomia nacionalmente, tiveram a maior rejeição à reforma (com 65% e 67% dos votos contrários à reforma, respectivamente). A nova Carta, segundo as pesquisas, também foi rejeitada em Tarija e Pando.
Segundo as projeções das pesquisas, a maior parte dos bolivianos também foi a favor do menor limite de área máxima de terras que se pode ser proprietário. A decisão, paralela à votação sobre a Constituição, é de que a maior área que se pode ter é de 5.000 hectares.
Segundo o jornal boliviano "El Diario", a nova Constituição vai substituir a Carta Magna de 1826, que apesar de ter durado quase dois séculos, passou por 17 reformas e teve mais de 100 modificações em detalhes.
O jurista Luis Antezana, que fez o levantamento para o jornal, disse que a Constituição agora deixada para trás é completamente diferente da que vai ser adotada após o referendo.
Votação As mesas de votação do referendo boliviano para aprovar a nova Constituição do país começaram a encerrar suas atividades às 16h (18h em Brasília) deste domingo (25), dando início imediato à contagem dos cerca de 3,8 milhões de votos.
O processo eleitoral para aprovar ou rejeitar o texto da nova Carta Magna boliviana, além de definir a extensão máxima das propriedades rurais no país, foi concluído após oito horas initerruptas de votação.
A jornada eleitoral transcorreu sem problemas, de acordo com um informe do ministro do governo, Alfredo Rada, encarregado da segurança interna. Foram registrados apenas pequenos incidentes de indução ao voto.
Segundo a Organização dos Estados Americanos (OEA) a votação transcorreu em "clima de tranquilidade e respeito" e não houve irregularidades.
Governo
O presidente da Bolívia, Evo Morales, rejeitou denúncias dos opositores sobre uma possível fraude no referendo constitucional realizado no país, e qualificou estas acusações de "agonia dos derrotados". Para o governante, os opositores sabem que a diferença a favor do "Sim" à nova Constituição será "enorme" e, por isso, tentam gerar dúvidas sobre a transparência do processo.
"É o instrumento de agonia das pessoas derrotadas", ressaltou o líder boliviano em entrevista na cidade de Cochabamba. Morales defendeu o "alto espírito democrático" que os bolivianos estão demonstrando no referendo realizado hoje e aproveitou para dar parabéns aos rivais por comparecerem às urnas e terem "deixado de lado a violência".
O presidente disse estar otimista, porque "a democracia vai se impor neste dia histórico", e ressaltou a presença da comunidade internacional na Bolívia, onde há 350 observadores para vigiar o processo.
Oposição
Os líderes autonomistas do departamento de Santa Cruz, leste da Bolívia, e opositores ao presidente Evo Morales foram votar no referendo expressando dúvidas sobre a transparência da consulta.
Durante a campanha do referendo constitucional, os dirigentes de Santa Cruz e outros departamentos autonomistas, como Beni, Tarija ou Chuquisaca, foram os mais fortes defensores do "Não" ao novo projeto constitucional que está sendo votado hoje na Bolívia e com o qual Morales pretende "refundar" o país.
Os opositores autonomistas rejeitam o texto, pois afirmam que não contém suas reivindicações de autogoverno, questão que manteve os líderes em confronto com o governo longo de 2008. O governador regional de Santa Cruz, o opositor Rubén Costas, votou no começo da manhã em um colégio eleitoral do centro da capital de Santa Cruz, onde expressou suas suspeitas sobre uma possível fraude neste referendo.
"Estamos preocupados com o que aconteceu na eleição anterior, e com todas as dificuldades que enfrentamos nestas (horas) prévias e todas as denúncias", disse Costas, que, no entanto, convocou a população a participar da consulta.
Pouco antes, o governador participou de uma missa na catedral de Santa Cruz, onde também elogiou a presença de observadores internacionais de instituições as quais qualificou de "sérias", e destacou que também não tinha de que se queixar.
"No oeste do país, há lugares inexpugnáveis (...), não tenho a certeza de que os observadores vão estar nos lugares certos", disse Costas, em alusão às regiões da Bolívia nas quais Evo Morales tem maior eleitorado.
Após assistir à cerimônia religiosa, o presidente do Senado, o também opositor e de Santa Cruz Óscar Ortiz, pediu aos cidadãos que denunciem à imprensa as irregularidades que presenciarem.
Por sua parte, o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz e um dos principais opositores a Morales, o empresário Branco Marinkovic, convocou os bolivianos às urnas para definir qual visão de país desejam.
Também votaram nas primeiras horas da consulta outros dirigentes departamentais opositores, como os governadores regionais de Tarija, Mario Cossío; Beni, Ernesto Suárez, e Chuquisaca, a indígena quíchua Savina Cuéllar.