Cristina Fernandez de Kirchner é a nova presidente da Argentina, segundo as pesquisas de boca-de-urna divulgadas na noite de ontem. De acordo com a sondagem da rede de tevê argentina TN, ela teria 46,3% dos votos (para evitar o segundo turno, é necessário obter pelo menos 45% dos votos ou 40% e 10 pontos de diferença sobre o segundo colocado). Nas pesquisas, a segunda colocada, Elisa Carrió, aparece com 23,7%. Se essa previsão se confirmar na contagem oficial dos votos, será a primeira vez que uma mulher é eleita presidente do país (Isabelita Perón herdou o cargo, não foi eleita, em 1974).
Das 73.711 mesas eleitorais do país, os votos de apenas 4.254 foram apurados até o fechamento desta edição. Cristina Kirchner liderava com 41,7% dos votos. Roberto Lavagna estava em segundo, com 22%, seguido de Elisa Carrió, com 17,7% e Alberto Saá, 12,5%.
A eleição na Argentina foi marcada pela apatia dos eleitores. Apesar de Néstor Kirchner não tentar a reeleição, o clima nas ruas é o da continuação. Isso porque Cristina é a mulher do atual presidente e pouco deve alterar no comando do país. Foi o governo popular dele que proporcionou a vitória dela.
Herança do marido
Kirchner assumiu em 2003, depois do ano negro na Argentina, quando o país sofria com uma grave recessão econômica. Ajudado por um contexto internacional favorável, melhorou o índice de desemprego e pobreza. Deu também grande ênfase aos programas de transferência de renda para os mais pobres tidos como os principais eleitores de Cristina. Uma pesquisa do instituto Poliarquia revelou que ela tinha a preferência de mais de 60% do eleitorado menos escolarizado.
A expectativa é de que Cristina mantenha as políticas do atual governo. Ela e o marido já declaram publicamente que governam juntos e pedem a opinião um do outro em relação às medidas a serem adotadas pelo Estado. Cristina foi eleita senadora pela primeira vez em 1995 e desde então sempre se manteve no Congresso. Seus aliados garantem que essa experiência faz dela uma negociadora mais hábil que o marido. Também teria melhores relações internacionais.
Chávez
Se eleita, uma mudança que poderá ocorrer é um distanciamento, ainda que tímido, de Hugo Chávez, acreditam especialistas que conversaram com a reportagem da Gazeta do Povo nesta última semana. Essa alteração de política externa ocorreria porque, com a recuperação da economia argentina e sua maior importância no cenário mundial, a tolerância da comunidade internacional com uma aliança muito próxima a Chávez seria menor e poderia prejudicar o governo de Cristina. Por outro lado, tampouco ela poderá se desvincular da Venezuela. A Argentina passa por um sério problema de oferta de energia e o país caribenho pode ser a solução.
Cristina também promete aprofundar as relações com o Mercosul e o Brasil. Em entrevista à Rede Globo, ela afirmou que o Brasil seria o primeiro país a que visitaria quando eleita.