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Energia

Bolívia ignora o Brasil; Petrobrás tira gás de pedra

Ponta Grossa – Numa semana que prometia definições sobre os contratos mantidos com petroleiras multinacionais, a Bolívia simplesmente ignorou os interesses brasileiros. Não definiu os preços do gás natural nem concordou em indenizar a Petrobrás. Longe disso: se aproximou da Venezuela e anunciou projetos que ameaçam reduzir a dependência da estatal brasileira.

As petroleiras estatais PDVSA (Venezuela) e YPFB (Bolívia) assinaram sexta-feira um acordo para a criação de uma empresa mista chamada Petroandina, que exigirá um investimento de 1,5 bilhão de dólares. A nova petroleira será uma empresa anônima mista dedicada ao comércio e fornecimento de hidrocarbonetos.

A assinatura do acordo foi presenciada pelos presidentes de Venezuela, Hugo Chávez, e Bolívia, Evo Morales, e pelo vice-presidente de Cuba, Carlos Lage. Morales destacou que, "pela primeira vez na história, a Bolívia vai industrializar os hidrocarbonetos".

Pressionada a reduzir a dependência brasileira do gás boliviano, nacionalizado no início do mês, a Petrobrás mostra que é possível tirar gás até mesmo de pedra. A usina de xisto que a empresa mantém em São Mateus do Sul (PR) vem fazendo isso há cinco anos, em pequena escala. O gás obtido do xisto é usado pela própria usina e como combustível para uma indústria de cerâmicas instalada ao lado da estatal.

O anuário de 2003 da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que a intenção é produzir cada vez mais gás de xisto. Segundo o anuário da ANP, o aumento da produção de 2001 a 2002 foi de 20%. Entre 2002 e 2005, a produção cresceu oito vezes. A usina de São Mateus do Sul processa diariamente 7,8 mil toneladas de xisto que geram 480 t de óleo combustível, 90 t de nafta industrial, 120 t de gás combustível, 45 toneladas de gás liquefeito (GLP) e 75 t de enxofre.

O xisto é uma rocha rica em um material orgânico chamado querogênio. Quando submetido a temperaturas elevadas, decompõe-se em óleo e gás. Desses produtos, sai uma série de subprodutos usados em diversos segmentos industriais. A escolha da Petrobrás por São Mateus do Sul para instalar a usina de extração do xisto não foi aleatória. A cidade está sobre uma das maiores reservas mundiais de xisto, a chamada Formação Irati, que se espalha por São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul. A reserva equivale a 2 bilhões de barris de óleo, 25 milhões de toneladas de gás liqüefeito e 68 bilhões de toneladas de gás combustível.

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