Após séculos de discriminação, os indígenas bolivianos ganharão um inédito poder político se for aprovada a nova Constituição promovida pelo presidente Evo Morales, o primeiro membro da maioria indígena a governar o país.
Morales, da etnia aimará, diz que a Constituição que será submetida a referendo no domingo cria um Estado multicultural, onde os povos indígenas terão maior voz e que acaba com o status quo que favorece a elite mestiça descendente de europeus.
"Esta bela terra nos pertence: aimarás, quéchuas, guaranis, chiquitanos... Os direitos dos que nasceram nesta terra são reconhecidos na nova Constituição", disse Morales neste mês a simpatizantes no sul do país.
A identidade étnica, seja pelo idioma ou pela preservação de tradições espirituais pré-hispânicas e pré-católicas, se tornou uma força poderosa na política boliviana, e deve garantir a aprovação da Constituição.
Cerca de 60 por cento dos adultos se considerem indígenas neste miserável país, com cerca de 10 milhões de habitantes, e muitos ainda se sentem menosprezados.
"Sempre nos relegam, nunca temos a preferência. Por exemplo, num hospital, em lugares públicos, bancos, lojas, nos olham feio", disse a aimará Cristina Yapu, que usa as volumosas saias tradicionais e longas tranças.
Como muitos indígenas, Yapu reverencia Morales não tanto por suas políticas estatizantes e de distribuição de renda, e sim por identificação étnica.
"Sei pouquíssimo (da nova Constituição), mas pretendo votar 'sim'. Tenho Fé em Morales e nas suas reformas", disse essa viúva, que mantém dois filhos com a renda de um pequeno armazém nos arredores de La Paz.
As pesquisas indicam que pelo menos 55 por cento dos bolivianos pretendem votar "sim" à nova Carta, que autoriza Morales a disputar a reeleição, aumenta o controle do Estado sobre a economia e dá aos povos indígenas mais representatividade no novo Congresso "multicultural".
A Constituição prevê uma representação indígena no Tribunal Constitucional, e autoriza tribos a julgarem e punirem suspeitos de crimes segundo seus costumes tradicionais, e não de acordo com os preceitos jurídicos herdados da colonização espanhola.
A nova Carta reconhece também o direito da autodeterminação dos povos indígenas em terras comunitárias e lhes dá o direito de explorar os recursos renováveis, mas com voto também nas decisões sobre a extração de petróleo, gás natural e minérios.
Além disso, funcionários públicos serão obrigados a falar o idioma indígena da região onde trabalharem.
Morales tem forte apoio entre os indígenas dos Andes, e enfrenta a maior oposição nas planícies do norte e leste, especialmente na relativamente próspera região de Santa Cruz, onde a maioria da população não segue as tradições indígenas.
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