O presidente Jair Bolsonaro chegará neste domingo (31) em Israel, onde se encontrará com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. As relações entre Brasil e Israel estão em uma “nova etapa”, avalia o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley. Ele esteve em Curitiba entre os dias 11 e 14, visitou universidades, se encontrou com autoridades e assinou um protocolo de intenções com o governador do Paraná Ratinho Junior.
Em uma conversa com jornalistas no Centro Israelita do Paraná, Shelley falou sobre a mudança de posição do Brasil em relação a Israel.
"Sempre tivemos relações - mais frias, agora estão mais quentes", avaliou o embaixador. Para ele, o novo governo tem privilegiado as questões econômicas sobre as políticas na relação com Israel, ao contrário do que acontecia no passado.
De fato, o Brasil tem mudado a postura em relação a Israel. Isso se tornou visível durante a votação de resoluções do Conselho de Direitos Humanos da ONU, no dia 22 de março, que tratavam de territórios reivindicados pela Síria e pelo governo palestino. O Brasil mudou a sua tradição diplomática e se posicionou a favor de Israel em duas das resoluções.
Neste tipo de votação na ONU, quando envolvia os territórios disputados com palestinos ou as colinas de Golã, o representante brasileiro costumava ou se abster ou votar contra a posição israelense.
Na sexta passada, porém, o Brasil se alinhou com Israel e votou contra duas resoluções favoráveis a posição de palestinos e sírios. Em outras três resoluções o país manteve a tradição, votando a favor de duas e se abstendo em outra.
O Brasil já sinalizou a intenção de mudar a sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, uma promessa feita por Bolsonaro após a sua eleição, mas que sofreu resistências - às vésperas da viagem o presidente já falava em abrir um escritório de negócios em Jerusalém, em vez de transferir a embaixada.
Sobre a intenção do Brasil, Shelley disse que esse seria um gesto simbólico, que seria bem recebido por Israel. “A capital de Israel sempre foi Jerusalém”, disse ele, ressaltando que a iniciativa partiu do Brasil e do presidente Bolsonaro, que tem "grande admiração" por Israel. O diplomata não acredita que os países árabes boicotariam o Brasil por uma maior aproximação com Estado judaico, já que eles não escolheriam pagar mais caro pelos produtos que atualmente compram aqui.
"Jair Bolsonaro é o segundo Osvaldo Aranha", comparou Shelley, em referência ao diplomata brasileiro considerado fundamental para a decisão na ONU da criação do Estado de Israel em 1948. "Agora, o Brasil votou contra o Hamas, com os Estados Unidos, pela primeira vez em 70 anos", disse. Em dezembro, o Itamaraty se alinhou aos EUA e ao Estado judaico e votou a favor de um voto de censura contra o grupo militante palestino Hamas na ONU.
Inovação
A parceria entre os dois países pode beneficiar o Brasil em uma área muito importante: a inovação nas universidades. Israel investe até 4,5% do seu produto interno bruto em pesquisas e tecnologia. E o trabalho conjunto entre universidades, empresas do setor privado e o governo funciona muito bem.
É comum que as universidades israelenses tenham uma agência de inovação que facilita a transferência de tecnologia da academia para as empresas, e as universidades faturam alto com os royalties de seus produtos patenteados.
"Aqui no Brasil, as universidades são mais fechadas, não têm muitos recursos, não podem fazer negócios", comentou Shelley. "O setor privado vem de um lado, a universidade traz o conhecimento. Cada universidade de Israel ganha muito em royalties dessas parcerias com o setor privado".
Eleições
Os israelenses terão eleições gerais no dia 9 de abril. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu concorre a reeleição - se ele vencer, se tornará o primeiro-ministro de Israel que permaneceu por mais tempo no cargo. E ele encara os eleitores em um momento difícil, em meio a críticas às suas políticas de segurança e investigações de corrupção. Netanyahu foi indiciado oficialmente em três acusações de corrupção.
Um dos cenários possíveis apontados pelas pesquisas é um governo inédito, caso o partido Kahol Lavan (Azul e Branco), fundado no mês passado, alcance a vitória.
O embaixador israelense preferiu não entrar em detalhes sobre as eleições de seu país. "Como em todos os países: quem está fora quer entrar, quem está dentro quer se manter", resumiu. "O povo israelense é inteligente e vai saber decidir. Temos uma grande democracia".