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Os 18 meses da guerra empreendida contra a Ucrânia têm provocado cada vez mais consequências para a Rússia, que vê sua economia desmoronar com a oscilação de sua moeda (o rublo chegou a valer US$ 0,009), o aumento das taxas de juros (atualmente em 12% ao ano) e as sanções aplicadas pelo Ocidente, que derrubaram o preço do petróleo produzido pelo país e das exportações em geral.
No último dia 22, o presidente Vladimir Putin se reuniu com autoridades do Poder Executivo russo e do Banco Central do país (BCR), convocando-os a criar medidas para travar a instabilidade financeira provocada pelo desequilíbrio da balança comercial devido ao conflito no leste europeu.
"Nos últimos meses, a volatilidade nos mercados financeiros aumentou consideravelmente […]. Obviamente, essas oscilações dificultam a tomada de decisões sobre investimentos por parte das empresas e dos cidadãos", disse Putin durante a reunião.
Um dos instrumentos adotados pela equipe econômica do Kremlin para tentar frear a instabilidade interna na Rússia foi o aumento das taxas de juros. Contudo, somente tal ação não é suficiente para manter as contas do país equilibradas e ainda administrar os gastos de uma guerra, que são altos.
A Reuters teve acesso a estatísticas do governo, que mostraram um gasto de 9,7 trilhões de rublos (US$ 101 bilhões) neste ano com a guerra. Em comparação com 2021, que antecedeu o conflito, as despesas militares foram quase três vezes maior em 2023.
O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz em Estocolmo afirma que esses números podem ser subestimados e devem representar apenas 75% do real valor dispendido pelo Estado russo.
No início de agosto, os indicativos do Banco Central russo também mostraram que o superávit do país caiu cerca de 85% nos últimos sete meses, comparado ao ano anterior. Atualmente, a dívida pública do país representa 14,9% do PIB, mas deve aumentar, segundo especialistas em economia internacional.
Em entrevista à CNN, Janis Kluge, especialista do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, afirmou que a desvalorização da moeda local e o aumento da inflação e das taxas de juros podem levar a população a uma desconfiança em relação ao governo, e isso pode ser tornar uma "dor de cabeça" para Putin.
"A última coisa que o governo quer é que os russos percam a confiança em sua própria moeda. Se eles começarem a trocar os rublos por moedas estrangeiras, teríamos um ciclo vicioso e uma consequente crise monetária", disse.
De acordo com uma reportagem da agência AFP, os moradores das grandes cidades, como Moscou, ainda não têm percebido de forma significativa os efeitos dessa instabilidade financeira.
Algumas lojas de marcas ocidentais foram substituídas nos shoppings e o desemprego continua "dentro da normalidade" em relação aos padrões do país, em 4%.
Empresários que precisam importar matéria-prima afirmaram que tiveram que trocar de fornecedores, antes de origem ocidental. Entre os novos caminhos encontrados para acordos comerciais de importação, está a Ásia.
Para o chefe do Kremlin, "os riscos inflacionários estão aumentando" - a inflação subiu para 3,52% em meados de agosto -, por isso "conter a alta dos preços agora é o primeiro plano do governo".