No mais letal ataque aéreo israelense desde o início do conflito com o Hezbollah, no Líbano, já 19 dias, pelo menos 54 civis, incluindo 37 crianças, foram mortos, na cidade de Qana. Mísseis arrassaram várias casas e derrubaram um prédio de três andares, onde uma centena de pessoas estava abrigada.
A matança de Qana, como o episódio já está sendo chamado, forçou a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, a cancelar a visita que faria hoje a Beirute, em suas negociações por um cessar-fogo. O governo do Líbano disse, depois desse ataque, que ela não seria bem-vinda até se alcançar uma trégua.
A notícia do bombardeio em Qana parece ter servido como gota d'água para os libaneses. Num protesto que reuniu milhares nas ruas de Beirute, o prédio das Nações Unidas foi invadido e vandalizado , aos gritos de "Morte a Israel, Morte a América".
Crianças estavam dormindo
O ataque aéreo, realizado durante a madrugada local, reduziu a pó diversos prédios em Qana. Emissoras de TV do Líbano e outros países árabes mostraram imagens das dezenas de corpos de crianças, com roupas de dormir, sendo retirados dos destroços e carregados nos braços por equipes da Cruz Vermelha.
- Filmem isto para os europeus e americanos. Isso é a civilização que nos trazem - gritava um homem com uma criança morta no colo.
- Isso é uma carnificina, uma carnificina - gritava uma mulher.
O primeiro-ministro Ehud Olmert alegou "extremo pesar" pela morte de civis inocentes, em especial crianças, e prometeu abrir inquérito para apurar o bombardeio . Mas não pretende suspender a ofensiva contra o Líbano.
- Eu gostaria de expressar meu profundo pesar pela morte de civis inocentes. Mas não vamos recuar diante do Hezbollah e não vamos suspender a ofensiva, apesar das circunstâncias difíceis. É a coisa certa a fazer - disse Olmert.
O governo de Israel responsabiliza o Hezbollah pela matança, já que a milícia xiita usa a área de Qana para disparar foguetes contra Israel.
Em reação ao ataque, Condoleezza Rice disse que planejava permanecer em Israel neste domingo porque havia "muito trabalho a fazer" lá e que estava "profundamente triste" .
O Hezbollah prometeu retaliações. "Esse horrível massacre não ficará sem resposta", disse o grupo em comunicado.
O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, disse que não negociaria antes de um cessar-fogo, acrescentando que a visita de Condoleezza à Beirute poderia não acontecer.