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O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou nesta sexta-feira (10) a destituição de cinco ministros, incluindo a das Relações Exteriores, Antonia Urrejola, que será substituída por Alberto van Klaveren, ex-subsecretário da pasta e que já foi embaixador na Bélgica.
Também deixam o gabinete Juan Carlos García (Obras Públicas), Julieta Brodsky (Cultura), Alexandra Benado (Esporte) e Silvia Díaz (Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação), que serão substituídos por Jessica López, Jaime de Aguirre, Jaime Pizarro e Aisén Etcheverry.
“O que me motiva a fazer estas mudanças não são pressões políticas ou pequenas compensações, o objetivo é melhorar a nossa capacidade de responder e gerir as urgências que o nosso país enfrenta hoje”, disse Boric depois da posse nos novos membros do seu gabinete.
Esta é a segunda mudança ministerial feita por Boric desde que tomou posse, há pouco mais de um ano, e ocorre dois dias depois de ter sofrido a sua maior derrota legislativa, quando a Câmara dos Deputados rejeitou a sua prometida reforma fiscal, com a qual pretendia financiar o seu programa social e arrecadar 3,6% do PIB em quatro anos.
“Precisamos de equipes com conhecimento do Estado, com nova energia e também com a experiência necessária para poder responder sem demora ou desculpas para exigências urgentes”, comentou o presidente, que insistiu que são necessárias “maiorias” e “ampliar a base de apoio”.
O rumor de um novo ajuste ministerial havia surgido semanas atrás e era exigido tanto pela oposição como por uma das duas coalizões no poder, Socialismo Democrático, que se sentia subrepresentada em comparação com o bloco de Boric, Aprovo Dignidade (Partido Comunista e Frente Ampla).
A entrada de Van Klaveren representa um reforço do Socialismo Democrático, constituído pelos partidos tradicionais de centro-esquerda que atuam no Chile desde a queda do regime militar.
Van Klaveren é um nome bem conhecido na diplomacia regional e, embora não seja militante, é próximo do Partido para a Democracia (PPD), ao qual pertence a ministra do Interior e chefe de gabinete, Carolina Tohá.
Ele foi subsecretário das Relações Exteriores durante o primeiro mandato de Michelle Bachelet (2006-2010), ex-embaixadora chilena na Bélgica e agente do Chile em Haia durante a disputa marítima com o Peru. Atualmente, é diretor da Unidade Acadêmica de Relações Jurídicas e Econômicas Internacionais do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile.
A gestão de Urrejola esteve sob os holofotes durante semanas, especialmente após o vazamento, em 24 de janeiro, de um áudio no qual ela e vários funcionários do seu ministério criticaram com raiva o embaixador argentino no Chile, Rafael Bielsa.
Ex-presidente da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) e sem filiação política, Urrejola é vista como a responsável pela dura condenação de Boric aos regimes da Nicarágua e da Venezuela em fóruns internacionais, posição que o distinguiu de outros líderes esquerdistas da região.
A mudança no Ministério das Relações Exteriores é profunda e afeta também os dois subsecretários: Ximena Fuentes (Relações Exteriores) e José Miguel Ahumada (Relações Econômicas Internacionais), duramente criticados por questionarem a política de comércio exterior chilena, especialmente a assinatura do Acordo Global e Progressivo de Associação Transpacífico, conhecido como TPP-11.
Além de Fuentes e Ahumada, outros 13 subsecretários de Estado foram substituídos.
Boric fez o seu primeiro ajuste ministerial após o plebiscito constitucional em 4 de setembro, quando a opção defendida pelo governo perdeu e mais de 62% dos chilenos rejeitaram a nova Constituição proposta.