A China pediu nesta quarta-feira, 3, ao Reino Unido que pare imediatamente qualquer forma de interferência nos assuntos de Hong Kong, depois que Londres pediu a não aplicação de uma polêmica lei de segurança neste território semiautônomo. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, declarou nesta quarta-feira, 3, que o Reino Unido não dará as costas ao povo de Hong Kong.
Um dia antes, Johnson havia dito que o país oferecerá vistos a milhões de cidadãos do território e uma possível via para se obter a nacionalidade - cerca de 3 milhões podem se beneficiar - , caso a China persista com essa lei de segurança nacional. As declarações provocaram a reação do governo chinês nesta quarta-feira.
"Aconselhamos aos britânicos que abandonem sua mentalidade de Guerra Fria, seu espírito colonialista e reconheçam e respeitem o fato de que Hong Kong foi devolvido à China", afirmou Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em Pequim. "Caso contrário, não farão mais que dar um tiro no pé", completou, antes de informar que Pequim protestou oficialmente a Londres.
O projeto de lei aprovado pelo Parlamento chinês, mas que ainda não foi adotado em definitivo, prevê uma punição às atividades separatistas, terroristas, subversivas e à interferência estrangeira em Hong Kong. Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Canadá expressaram o temor de que a lei limite a autonomia de Hong Kong.
"Ainda há tempo para que a China reflita, se afaste do precipício e respeite a autonomia de Hong Kong e suas próprias obrigações, assim como suas obrigações internacionais", afirmou na terça-feira o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab.
Em um artigo publicado nos jornais Times of London e South China Morning Post, o chefe do governo britânico argumentou que muita gente em Hong Kong teme que sua vida, que a China se comprometeu a defender, esteja ameaçada.
"Se a China continuar justificando seus medos, o Reino Unido não poderá, com a consciência tranquila, dar de ombros e olhar para o outro lado; ao invés disso, cumpriremos as nossas obrigações e ofereceremos uma alternativa."
"Hong Kong tem sucesso porque seu povo é livre", escreveu Johnson, argumentando que a nova lei poderá destruir uma das joias da economia asiática e arruinar a reputação chinesa. "Se a China prosseguir, o faria em conflito direto com suas obrigações da declaração conjunta, um tratado de cumprimento obrigatório registrado nas Nações Unidas", se referindo ao acordo entre eles sobre o território firmado em 1984.
Johnson repetiu a promessa de proporcionar aos portadores de passaportes de Cidadãos Britânicos no Exterior de Hong Kong um caminho para a obtenção da cidadania britânica, o que lhes permitiria se estabelecer no Reino Unido.
Cerca de 350 mil pessoas de Hong Kong têm passaportes nacionais britânicos (internacionais), razão pela qual não precisam de visto para entrar no Reino Unido por até seis meses. Outras 2,5 milhões poderiam solicitar um.
O governo britânico explicou que mudará a legislação migratória e permitirá àqueles que tiverem um desses passaportes irem para o Reino Unido por um período renovável de 12 meses; poderão também obter outros direitos migratórios, como o de trabalhar, dando a eles abertura para a obtenção da cidadania, segundo explicou o premiê.
A oposição teme que a lei de segurança nacional aprovada pelo Parlamento chinês seja uma arma para erradicar qualquer dissidência nesse centro financeiro asiático.
Hong Kong foi devolvida à China em 1997 depois de mais de 150 anos sob controle britânico, imposto depois que o Reino Unido derrotou a China na Primeira Guerra do Ópio.
Londres já havia anunciado planos para ampliar os direitos de visto àqueles que puderem aplicar a um passaporte nacional britânico e se somou às críticas internacionais contra Pequim. A intervenção pessoal de Johnson aumenta significativamente a pressão.
Johnson rejeita e chama de "falsas" as afirmações de que Londres teria organizado os protestos, antes de acrescentar: "o Reino Unido só quer que Hong Kong tenha êxito" como "um país, dois sistemas". "Espero que a China queira o mesmo. Trabalharemos juntos para que seja assim."
O ativista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong conclamou o Reino Unido a ir além e impor sanções e "medidas restritivas" contra a China.
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