Agricultura
Economia paraguaia depende da exportação de soja
O Paraguai é hoje o terceiro maior exportador de soja da América do Sul e o sexto principal fornecedor global da commodity. Basta, portanto, uma quebra na safra de grãos para que o Produto Interno Bruto (PIB) do país recue, como aconteceu no ano passado.
A seca que assolou as lavouras paraguaias no último verão torrou cerca de 3 milhões de toneladas de soja, volume equivalente a 75% do que o país pretendia exportar na temporada, conforme levantamento de campo do núcleo de Agronegócio Gazeta do Povo. Com isso, as estimativas de crescimento do PIB do país caíssem de 4% para 3%. Mais de 20% dos financiamentos bancários são destinados à agricultura. "Perde o Mercosul e perde o Brasil, como líder na região, que não pôde controlar a situação", afirmou o analista argentino Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb.com, em relação a expulsão do país do Mercosul.
No entanto, uma fonte diplomática do Brasil afirmou à Agência Estado, que o país não será expulso do bloco, mas deve sofrer sanções, como a suspensão temporária, que o exclui de qualquer processo de decisão. Se for totalmente expulso do Mercosul, o Paraguai terá de pagar cerca de US$ 261 milhões correspondentes a alíquotas para poder exportar mercadorias aos países sócios, conforme Sica.
350 mil
brasileiros vivem em território paraguaio. Entre 50 mil e 100 mil moram e trabalham no campo.
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Responsáveis por alavancar a economia do Paraguai na última década, os brasiguaios, produtores rurais brasileiros radicados no país vizinho, querem que o governo de Federico Franco seja reconhecido pelos países membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), seus sócios (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), mas principalmente por sua nação. Se isso não ocorrer, o comércio entre as nações que integram o bloco e seus clientes internacionais será enfraquecido.
"A base do país é a agricultura e, apesar de ter pouco tempo para trabalhar [1 ano e meio], o novo presidente mostra consciência quanto ao que precisa ser feito. A meta dele é industrializar o país e isso começa pelo agronegócio", disse ontem, de Ciudad del Este, Ovídio Zanquet, gerente-geral da Lar, cooperativa que atua em 100 mil hectares no país.
O Paraguai é hoje o país que abriga maior número de brasileiros imigrantes. Segundo estimativas de entidades no país vizinho, 350 mil brasileiros vivem em território paraguaio. Entre 50 mil e 100 mil moram e trabalham no campo.
Brasília
Com objetivo de mostrar ao governo brasileiro que não houve golpe no país vizinho, três parlamentares paraguaios e o presidente da Federação da Produção, Indústria e Comércio do país participaram ontem de almoço com representantes da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), em Brasília.
O presidente da Comissão de Relações Internacionais, senador paraguaio Miguel Carrizosa, e o presidente da Comissão Constitucional do Senado, Miguel Saguier, ressaltaram que os parlamentares precisavam tomar rapidamente uma decisão para evitar que houvesse uma rebelião nos quartéis, que estaria sendo chancelada pelo então presidente Fernando Lugo.
"Estão dizendo que violamos o direito de defesa do Lugo, mas não nos deixam participar da reunião do Mercosul. Não nos dão nenhum minuto para poder mostrar nossos argumentos. Creio que estão julgando de maneira injusta o Paraguai", reclamou Saguier.
Segurança
Após sofrer uma série de invasões do movimento campesino, como são chamados os sem-terra no Paraguai, os agricultores brasiguaios esperam que a troca de presidentes garanta a segurança no campo. Segundo Zanquet, mais de 90% da população, incluindo os ruralistas, está a favor de Federico Franco. "Esse governo se comprometeu e não pode prejudicar quem está produzindo. Todos acreditam que é uma grande oportunidade de as invasões cessarem", disse ele.
Segundo o gerente da cooperativa, que tem sede em Medianeira (Paraná), a imprensa paraguaia mostrou, inclusive, que o ex-presidente Lugo dava condições estruturais, de energia e água, que facilitavam a permanência dos invasores nas terras, mas ao mesmo tempo, fornecia escolta para que os produtores pudessem colher a safra.
"Nós queremos ordem e paz para poder continuar trabalhando aqui", disse por telefone, o paranaense Abud Dequechi Júnior, que está há mais de 20 anos produzindo grãos em Canindeyú, município que faz divisa com o Paraná.