Uma resolução condenando o governo da Síria pela violência na repressão aos protestos da oposição foi aprovada ontem nas Nações Unidas pela maioria esmagadora de 122 votos, incluindo o do Brasil. A mudança na diplomacia brasileira, que havia se abstido na última votação contra a Síria no Conselho de Segurança, no mês passado, foi elogiada por entidades internacionais de defesa dos direitos humanos. Dentre os Brics, o Brasil foi o único que votou a favor: Rússia, China, Índia e África do Sul se abstiveram.
"Foi um passo corajoso do Brasil e um sinal, esperamos, de que o país está pronto para ações do Conselho de Segurança. Esperamos que outros países sigam a liderança do Brasil, agora que não podem mais se esconder atrás de uma posição conjunta do Ibas", disse o diretor da Human Rights Watch para ONU, Philippe Bolopion, referindo-se ao grupo formado por brasileiros, indianos e sul-africanos.
A votação de ontem, no Comitê de Direitos Humanos da Assembleia-Geral da ONU, mostrou que o regime de Bashar Assad está mais isolado a cada dia. Rússia e China, que haviam exercido seu poder de veto no Conselho de Segurança, desta vez se abstiveram (o total de abstenções foi 41). Os 13 votos contrários à resolução vieram de países de menor importância e de ditaduras como Cuba, Irã e Coreia do Norte, além dos "bolivarianos": Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua.
O Brasil havia votado a favor de uma primeira resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em agosto, condenando a violência praticada pelo governo sírio.
O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro foi indicado para liderar a comissão de inquérito criada com aquela resolução.
O Itamaraty considera o Conselho o foro adequado para a discussão de situações como essa. No Conselho de Segurança, porém, o Brasil resistiu à adoção de medidas como sanções contra o regime Assad e priorizou o engajamento da Síria, enviando uma missão a Damasco, composta também por representantes da Índia e da África do Sul.
Para chegar à decisão do voto de ontem, o Itamaraty avaliou que os esforços para incentivar o diálogo entre o regime de Assad e a oposição não estão dando resultados, e que a violência na repressão tampouco arrefeceu.
Pesou muito também, para a nova posição do Brasil, a decisão da Liga Árabe de suspender a Síria. Na votação de ontem, diversos países árabes, como Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Marrocos e Qatar apoiaram a condenação ao regime sírio.
O embaixador da Síria junto às Nações Unidas, Bashar Jaafari, protestou contra a resolução, apresentada por três países europeus França, Reino Unido e Alemanha com o apoio dos Estados Unidos.
"Esta resolução não tem nenhuma relevância para os direitos humanos, a não ser o fato de integrar a política americana contra o meu país", condenou o diplomata sírio.
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