Prisão
"Pensar de modo diferente é um delito", diz opositor ao comentar ordem de prisão
Folhapress
Carlos Vecchio, dirigente do partido oposicionista venezuelano Vontade Popular, disse ontem, por meio de sua conta no Twitter, que o governo do país faz um "terrorismo judicial" contra ele.
Na semana passada, conforme revelou ontem o seu partido, a Justiça venezuelana emitiu uma ordem de prisão contra ele por "incêndio intencional, instigação pública e associação para delinquir".
São as mesmas acusações que foram usadas para justificar a detenção do líder do Vontade Popular, Leopoldo López, preso há cerca de dez dias.
Paz
Vecchio disse pelo Twitter que "pensar de modo diferente é um delito neste país". E perguntou: "Como se pode falar de paz e de diálogo quando se reprime e se persegue a dissidência?"
Ele se referia à Jornada pela Paz e pelo Diálogo convocada pelo presidente Nicolás Maduro. "É possível falar de diálogo quando se prende Leopoldo López, se persegue o Vontade Popular, se reprimem os estudantes e se lança contra mim uma ordem de prisão?", questionou Vecchio.
O dirigente agradeceu as demonstrações de solidariedade que recebeu após a divulgação da ordem de prisão e disse que "a luta de um é a luta de todos".
17 mortos
A promotora-geral de Justiça, Luisa Ortega Díaz, disse ontem que até agora há 17 mortos e 261 feridos devido aos protestos na Venezuela. Segundo ela, em alguns casos, as mortes aconteceram durante choques com unidades antimotins da polícia; em outros, foram consequência de disparos de desconhecidos.
Kerry
O secretário de Estado americano, John Kerry, disse ontem que faz consultas a países como a Colômbia para tentar participar nas negociações para dar fim à crise na Venezuela. "Infelizmente, a Venezuela decidiu culpar com mais frequência os Estados Unidos por sua própria falta de governança e de atenção com sua economia e seus cidadãos", afirmou.
O governo brasileiro vê com bons olhos a convocação de uma reunião extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), pedida pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
O sinal verde foi dado na madrugada de ontem em reunião entre o chanceler venezuelano, Elias Jaua, e o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, para discutir a crise derivada de confrontos entre opositores e as forças de segurança.
Os protestos já duram um mês e seus efeitos preocupam a comunidade internacional. Em Washington, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que EUA e Colômbia discutem alternativas para algum tipo de mediação na Venezuela.
"Estamos trabalhando muito de perto com a Colômbia e outros países para tentar ver como se pode produzir algum tipo de mediação na Venezuela porque já ficou provado que é muito difícil para as duas partes [governo e oposição] chegar a um acordo por si mesmas", afirmou Kerry em entrevista coletiva com a chanceler colombiana, Maria Angela Holguín.
O secretário de Estado norte-americano disse ainda que Washington estuda negar e revogar vistos e congelar bens de funcionários do governo venezuelano ligados à repressão nas manifestações. A proposta foi apresentada na véspera pela comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano.
O chanceler do governo venezuelano, Elias Jaua, chegou ao Brasil num périplo que desde quarta-feira passada o levou a Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai com a mesma solicitação: levar os problemas internos a um fórum sul-americano, sem a interferência de países como os EUA, mais distantes da realidade venezuelana. Existe uma avaliação reservada de que a Unasul pode ser mais eficiente do que a própria Organização dos Estados Americanos (OEA) para ajudar a tirar os venezuelanos da grave crise política.
"Cremos que teríamos maior eficácia que outras organizações demonstraram ao largo da História, para desativar rapidamente as tentativas contra a democracia", disse Jaua mais cedo a jornalistas.
Não há data certa para a reunião da Unasul, mas a previsão é que aconteça na próxima semana, provavelmente com chanceleres da América do Sul.
Capriles pede uma mudança profunda no país
Efe
O líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles, afirmou ontem que a transformação necessária para o país não é apenas política. "Acho que a mudança na Venezuela é mais complexa que uma mudança de governo, é preciso mudar também os poderes públicos porque o país tem que dar um giro. Temos um modelo fracassado e grande parte do problema, sem dúvida alguma, é Nicolás Maduro", criticou Capriles em entrevista à emissora colombiana RCN.
Capriles acrescentou que "o país vai rumo a um desastre econômico terrível". "Ou [Maduro] muda ou nós venezuelanos temos a força, de maneira organizada, para mudar de governo e para isso existe a Constituição", reiterou, lembrando que essas mudanças devem ser constitucionais, democráticas, pacíficas e com o apoio popular no processo eleitoral.
Capriles disputou e perdeu, no fim de 2012, a eleição para presidente contra Hugo Chávez, e hoje é governador do estado de Miranda.