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Energia

Brasil busca vacina para altos e baixos da Bolívia

Curitiba – Mesmo diante da incerteza nas negociações com o governo da Bolívia sobre a nacionalização das reservas bolivianas de petróleo e gás, que aumentaria, por exemplo, os impostos na importação de gás, o governo brasileiro tem perspectivas positivas para o setor. A meta até 2010 é que o gás natural corresponda a 11% da matriz energética no Brasil, que hoje é de 8,9%.

Para alcançar o objetivo, a Petrobrás anunciou investimentos de US$ 16 bilhões até 2010 como forma de ampliar a oferta de gás a 100 milhões de metros cúbicos por dia. O plano é que sejam 65% de produção própria e 35% importados da Bolívia, segundo o governo brasileiro.

O consumo atual de gás é de 43 milhões de metros cúbicos diários – sendo que a importação da Bolívia corresponde a 50% da demanda interna. Ou seja, haverá uma redução de 15% na importação de gás boliviano até 2010.

A Petrobrás não conseguirá reduzir a dependência do gás boliviano antes de 2010, prevê Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura. "Cerca de 75% do gás consumido em São Paulo é importado da Bolívia. Com um único tubo, a situação é bastante vulnerável. Até 2010, teremos de conviver com a dependência da Bolívia, ou seja, na corda bamba."

A Bacia de Santos estará produzindo "para valer" a partir de 2010, mas a produção poderia ser antecipada se houvesse alguma parceria privada, analisa. "A Petrobrás deve ter uma política de preço mais transparente para atrair investidores. Além de diversificar a importação de gás." No mercado do gás há espaço para todos, diz Pires. "No futuro, a Bolívia não sentirá um baque quando o Brasil deixar de ser o principal comprador de gás."

Tereza Fernandes, da MB Associados Consultoria Econômica, acredita que o processo de redução da dependência do gás boliviano irá ocorrer naturalmente, mas até 2010 será inviável. "Não temos alternativa. Ficaremos na mão de um só fornecedor por enquanto." Para acelerar a produção de gás a Petrobrás, no caso da Bacia de Santos, terá de firmar parceiras com a iniciativa privada, diz Tereza. "A aprovação da Lei do Gás no Brasil também é essencial para se regularizar o mercado e aumentar a confiança dos investidores." Se fosse preciso ligar todas as termelétricas brasileiras não haveria gás suficiente, argumenta a consultora.

Na última semana, a Petrobrás assinou um contrato com a estatal chinesa de petróleo Sinopec Group para a construção da primeira parte do Gasene (Gasoduto de Interligação Sudeste-Nordeste). O acordo de US$239 milhões está previsto no Plano Estratégico da Petrobrás, que destina para o segmento de gás e energia investimentos de US$ 6,5 bilhões em cinco anos.

Para Edmilson Moutinho, professor de Energia da Universidade de São Paulo (USP), a conexão do Gasene traz flexibilidade para a produção, além de conectar as três bacias (Santos, Campos e do Espírito Santo) oferecendo segurança de suprimento. Moutinho defende que o gás boliviano é estratégico para o Brasil e será a opção energética dos próximos anos. "Não devemos fechar as portas para os bolivianos. Precisamos construir um modelo sustentável para os dois países."

Outro senão, aponta Moutinho, é como o Brasil irá equilibrar no longo prazo o excesso de oferta de gás nacional e boliviano. "As negociações devem se reequilibrar e dar garantias de suprimento." No médio prazo, a Petrobrás deve investir em estoque estratégico, diz. "Na Bacia de Santos, poderíamos utilizar novas tecnologias e transportar em navios gás líquido, por exemplo. Isso traria flexibilidade."

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