Uso de avião da FAB gera polêmica
A viagem de Fernando Lugo ao Brasil em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi alvo de críticas no Paraguai, tanto pela oposição quanto por aliados. O próprio vice-presidente Federico Franco declarou que é "absolutamente lamentável que o presidente tenha que ser transportado com aviões de outros países". O estranhamento ficou acentuado por causa da natureza da visita de Lugo, que veio ao Brasil para a primeira reunião de discussão sobre o tratado de Itaipu, que foi a base do seu discurso eleitoral.
Brasília - Após três de horas de reunião, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o paraguaio Fernando Lugo criaram uma mesa técnica de negociação bilateral para discutir a questão da usina binacional de Itaipu. Ao fim do encontro, não houve clareza se haverá revisão do tratado uma reivindicação paraguaia que não é aceita pelo Brasil.
"Diria que não houve nenhuma mudança de posição em relação a esta questão (revisão do tratado). Vamos ver o que resulta da mesa de negociações porque podem surgir idéias criativas que encontrem boas soluções, disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ao lado do chanceler paraguaio Alejandro Hamed.
A mesa de negociação deve se reunir "em uma semana, dez dias, de acordo com os chanceleres. Além de debater formas de "recompensar brasileiros e paraguaios de forma justa pela riqueza gerada por Itaipu, os técnicos analisarão os números da usina custos, preço da energia, repasses etc.
A criação da mesa serve como saída política para ambos os presidentes. Eleito com a bandeira de revisão dos preços pagos por Itaipu ao Paraguai, Lugo precisa mostrar a seu eleitorado que é capaz de obter concessões do Brasil. Lula, por sua vez, tem resistência do Congresso à revisão e o Itamaraty não abre mão do texto atual.
Durante o encontro, Lula sancionou projeto de lei aprovado no Congresso dando aos caminhoneiros paraguaios que cruzam a Ponte da Amizade o mesmo tratamento tributário que têm os brasileiros.
Boa vontade
Antes do encontro com Lula, o presidente paraguaio se reuniu, em São Paulo, com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ao sair do encontro, Lugo falou com jornalistas e foi enfático: "Quem disse que não se pode mudar um tratado? Tudo se pode mudar, principalmente no mundo moderno e se houver vontade", disse.
Ele também afirmou que levaria a Lula seis eixos de renegociação do tratado.
Lugo disse ainda que um vizinho pobre e convulsionado não é bom negócio para ninguém. E mais: disse que o destino do Paraguai está inexoravelmente dependendo do governo brasileiro: "Um vizinho pobre e envolto em graves convulsões sociais (como será nosso destino, inexoravelmente, se não tivermos a compreensão do governo brasileiros nesta difícil, porém propícia conjuntura) não é negócio para ninguém."
Lugo vinculou totalmente o desenvolvimento de seu país e a abertura às grandes empresas, às mudanças no tratado, que estabeleçam uma garantia de recursos extras e a uma reforma agrária que dê mais justiça e tranqüilidade social ao Paraguai.
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