Apesar do esforço para exibir um discurso afinado sobre o Irã, Brasil e Rússia mostraram ontem clara dissonância em relação às chances de que seja obtido um acordo sobre o impasse nuclear durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país persa.
Em Moscou, penúltima escala antes de Teerã, Lula recebeu o aval do presidente russo, Dmitri Medvedev, para os esforços do Brasil de costurar um entendimento que dê garantias sobre o caráter civil do programa nuclear iraniano.
Em entrevista concedida depois da reunião com Medvedev no Kremlin, o brasileiro disse que está "cada dia mais otimista quanto a um acordo com o Irã. Afirmou ainda que confia nos "30 anos de experiência como negociador político para convencer o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Medvedev, que acompanhava sorridente as palavras de Lula, foi bem mais moderado em sua opinião sobre as chances de sucesso do Brasil. "Se o presidente Lula é otimista, eu também vou ser. Eu diria que as chances [de acordo] são de 30% disse o líder russo.
9,9
Ao ouvir a avaliação do colega russo, Lula abriu os braços e disse, fora do microfone: "Então você não está otimista. Em seguida, o presidente brasileiro disse que, de 1 a 10, acredita que as chances de um acordo nuclear com o Irã sejam de 9,9.
O grau de expectativa sobre um desfecho positivo para o impasse já fora elevado na véspera pelo chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki. Ele disse ter esperança de que um entendimento seja alcançado em um encontro trilateral em Teerã com a participação do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan.
Brasil e Turquia assumiram nas últimas semanas as negociações com o Irã para tentar implementar a proposta apresentada há sete meses pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que o Irã ainda resiste em aceitar.
De acordo com o plano, o Irã enviaria quase todo o seu estoque de urânio pouco enriquecido para outro país e receberia combustível nuclear adequado para uso médico, mas não para fins militares.
Insatisfeita com a falta de clareza do programa nuclear iraniano, a Rússia tem se mostrado inclinada a apoiar uma nova rodada de sanções contra Teerã no Conselho de Segurança da ONU, como tem defendido o governo americano.
O presidente russo disse que a visita de Lula a Teerã pode ser "a última chance de um acordo, repetindo cálculo externado na véspera por um alto diplomata americano.