Brasil e Turquia pediram na quinta-feira às grandes potências que aceitem o recente acordo nuclear com o Irã, que os Estados Unidos qualificaram de "perigoso".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, acusaram as potências ocidentais de estarem agravando o conflito com o Irã por sua recusa em negociar.
"Tudo o que eles queriam foi tudo o que nós fizemos, agora é preciso que as pessoas digam claramente se querem construir possibilidade de paz ou se querem construir possibilidade de conflito. A Turquia e o Brasil são pela paz", disse Lula a jornalistas durante o encontro dos dois governantes em Brasília.
Para o premiê turco, o momento não é adequado para discutir sanções ao Irã. Ele acrescentou que os países que criticam o acordo mediado por ele e Lula são "invejosos".
"Os países que estão criticando são países que têm armas nucleares e isso é muito contraditório", declarou Erdogan. Segundo ele, o Irã reafirmou à Turquia que não tem planos de construir armas nucleares.
Ambos estiveram neste mês em Teerã para mediar o acordo pelo qual o Irã aceitava enviar urânio baixamente enriquecido à Turquia, para receber no prazo de um ano combustível enriquecido a 20 por cento para uso em seu reator de pesquisas médicas.
Isso supostamente eliminaria os temores ocidentais de que o Irã poderia enriquecer urânio para uso em armas nucleares, uma intenção que Teerã nega possuir.
O acordo foi recebido com ceticismo pelos EUA e seus aliados, que acusam o Irã de já ter descumprido tratos anteriores. O intercâmbio de material nuclear havia sido proposto em outubro pela ONU, mas as potências ocidentais dizem que agora as condições mudaram.
Pressionando os demais países do Conselho de Segurança da ONU a aprovarem novas sanções contra o Irã, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, condenou em Washington a abordagem de Brasil e Irã.
"Ganhar tempo"
"Achamos que ganhar tempo para o Irã, permitir que o Irã evite a unidade internacional a respeito do seu programa nuclear, torna o mundo mais perigoso, e não menos", disse ela em discurso no Instituto Brookings.
"Certamente temos sérias discordâncias com a diplomacia do Brasil a respeito do Irã", acrescentou ela.
Também em visita ao Brasil, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o Irã precisa se empenhar mais para afastar as preocupações internacionais. "No coração da crise parece haver uma séria falta de confiança no Irã", disse ele.
Ban, que participa de um evento da ONU no Rio, disse a jornalistas que o Irã, embora afirme não desejar armas nucleares, "declarou que vai continuar o processo de enriquecimento" de urânio mesmo com o intercâmbio de combustível nuclear.
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU já concordaram com a adoção de novas sanções ao Irã, inclusive Rússia e China, que antes relutavam por causa das suas intensas relações econômicas com Teerã.
O apoio russo às sanções causou evidentes atritos entre os dois governos, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, não escondeu sua frustração com o comportamento da República Islâmica. "Para nosso grande pesar, durante anos - não só meses - a resposta do Irã a esses esforços foi insatisfatória, para falar em termos brandos", declarou.
Lavrov disse no entanto que o acordo mediado por Brasil e Turquia seria um avanço importante, caso viesse a ser implementado. Segundo uma nota do governo russo, ele mais tarde telefonou para o seu colega iraniano, Manouchehr Mottaki, a quem prometeu uma "cooperação ativa em levar adiante o processo de negociação."
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