O Brasil estuda designar o grupo libanês Hezbollah como uma organização terrorista, conforme o presidente Jair Bolsonaro intensifica o alinhamento da política externa de seu governo à dos EUA.
As autoridades estão analisando suas opções para levar adiante a ideia, que está sendo discutida nos níveis mais altos do governo, mas não tem apoio geral, de acordo com três pessoas com conhecimento direto do assunto. Não seria fácil implementar a medida, devido às particularidades da lei brasileira, disseram as fontes ouvidas pela Bloomberg, que pediram anonimato porque a discussão não é pública.
A medida faz parte dos esforços de Bolsonaro para criar laços mais fortes com Donald Trump, com quem ele também busca um acordo comercial. Durante a campanha presidencial do ano passado, seu filho Eduardo, que pode se tornar o embaixador brasileiro nos EUA, já defendia uma postura forte do governo brasileiro em relação ao Hezbollah e ao grupo palestino Hamas.
Mas a medida pode prejudicar as relações com o Irã, um aliado do Hezbollah que importa US$ 2,5 bilhões (R$ 10 bilhões) de produtos brasileiros por ano, e desagradar a influente comunidade libanesa do Brasil. O governo também tem preocupações de que isso poderia tornar o país um alvo de ataques terroristas, disse uma das pessoas ouvidas pela reportagem. Uma decisão pode ser anunciada antes da visita de Bolsonaro em outubro aos Emirados Árabes Unidos e à Arábia Saudita, dois países que se opõem fortemente ao Hezbollah.
Contactado pela Bloomberg, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que não considera o Hezbollah uma organização terrorista e não há planos de mudar seu status por enquanto. O gabinete do presidente, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal, responsáveis pela aplicação das leis de combate ao terrorismo, recusaram-se a comentar.
Atualmente, o Brasil considera como terroristas apenas os grupos já classificados como tal pelo Conselho de Segurança da ONU, incluindo a al-Qaeda e o Estado Islâmico. O país pode barrar a entrada, prender e congelar bens de pessoas suspeitas de serem parte dessas organizações.
Jair Bolsonaro está ao mesmo tempo disposto e sob pressão dos EUA para colocar o Hezbollah na lista de terroristas. Em uma reunião em novembro com o então presidente eleito Bolsonaro, o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, disse que Trump espera aumentar a cooperação com o Brasil em relação ao terrorismo, seja contra o Hezbollah, o Hamas ou outros.
A temperatura aumentou ainda mais quando a Argentina se tornou o primeiro país latino-americano a designar o Hezbollah como uma organização terrorista, no mês passado. Nesta segunda-feira (19), o governo do Paraguai designou oficialmente as milícias armadas do Hamas e do Hezbollah como organizações terroristas internacionais.
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