Leonardo DiCaprio, embaixador da ONU para questões climáticas, disse aos líderes mundiais: “Vocês podem fazer História ou serem vilipendiados por ela”| Foto: Mike Segar/Reuters

Obama

EUA e China devem "liderar luta" por menor emissão de carbono

Folhapress

Em um esforço para aumentar a cooperação mundial contra a mudança climática, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse ontem na Cúpula do Clima da ONU que nenhum país deve ficar de fora das ações para reduzir as emissões de carbono no planeta.

No encontro, que ocorre um dia antes da abertura da Assembleia-Geral da ONU, o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, convocou os líderes de Estado presentes a anunciarem medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fortalecer a resistência climática.

O objetivo maior, no entanto, é criar mobilização para um acordo significativo sobre o clima em 2015, na Conferência de Paris.

Obama afirmou ter se encontrado ontem com Zhang Gaoli, vice-primeiro-ministro da China, que ultrapassou os EUA e hoje é o maior emissor dos gases do efeito estufa, culpados pela mudança climática.

"Reiterei a ele minha crença de que, como as duas maiores economias e também os maiores emissores de gases do mundo, temos a responsabilidade de liderar [os esforços]. É isso que as grandes nações têm de fazer", disse. "E hoje, convoco todos os países a se juntarem a nós, não no próximo ano, ou no seguinte, mas agora. Nenhuma nação pode enfrentar essa ameaça sozinha."

No discurso, o presidente norte-americano ainda enumerou os esforços feitos pelo seu governo na área, como investimentos em energia limpa e redução da emissão de carbono.

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A presidente Dilma Rousseff, em seu discurso ontem na Cúpula do Clima em Nova York, limitou-se a listar avanços obtidos pelo Brasil na questão do desmatamento, que caiu 79% desde 2004. Apesar desse trunfo, não endossou o principal documento da cúpula, a Declaração de Nova York sobre Florestas.

A redução no desmatamento evitou lançar na atmosfera, a cada ano, 650 milhões de toneladas de CO2. "O Brasil, portanto, não anuncia promessas. Mostra resultados", afirmou a presidente.

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A Declaração de Nova York é mais uma carta de boas intenções do que um plano para cortar pela metade o desmate até 2020 e zerá-lo até 2030. O Brasil não aderiu à declaração por discordar, segundo a reportagem apurou, do compromisso de desmatamento zero. O governo considera que a questão não precisa ser decidida agora e há resistências à linguagem não diplomática do texto.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, diz que o país não foi chamado para debater o texto. Organizadores do documento afirmam que uma versão inicial foi apresentada ao governo em julho, mas a ministra negou tê-la recebido.

A maior restrição do Planalto diz respeito à ausência de distinção, no texto, entre desmatamento legal e ilegal. Como no Brasil se permite manejo sustentável de florestas para extração de madeira e derrubada de áreas para agricultura, o país não poderia aderir ao desmatamento zero. Isso implicaria, na visão do governo, impedir derrubadas que hoje são legais.

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil, adotado por decreto em 2007, estipulava eliminar a perda líquida de área de cobertura florestal até 2015. O tema esquentou a campanha eleitoral brasileira.

Dilma, que como ministra de Minas e Energia de Lula vivia às turras com a do Ambiente, Marina Silva, disse em Nova York que a adversária está "mentindo" ao dizer que o desmatamento na Amazônia cresceu no último ano. Segundo a presidente, houve um "aumentinho" em 2013.

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Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o desmatamento cresceu 29% entre 2012 e 2013. Com 5.891 km² de florestas destruídas, porém, esta foi a segunda menor taxa registrada desde 1988. Com o desmate zero proposto no texto, deixariam de ser emitidos por ano, a partir de 2030, de 4,5 bilhões a 8,8 bilhões de toneladas de CO2, valor estimado para o que a destruição de florestas lança de poluição anualmente. Seria o mesmo que tirar de circulação o bilhão de carros que há hoje no mundo.

Esforço contra aquecimento terá US$ 200 bi

A Cúpula do Clima produziu uma bela cifra: US$ 200 bilhões de recursos públicos e privados, até 2015, para enfrentar o aquecimento global. O valor, no entanto, resulta de uma salada com dezenas de compromissos e intenções de governos, empresas e organizações.

Entraram desde doações e linhas de crédito para iniciativas verdes até a descarbonização de investimentos (não financiar atividades econômicas que contribuam para o aquecimento global).

Em matéria de novos compromissos políticos, o resultado da cúpula pouco avançou. Barack Obama, presidente dos EUA (país responsabilizado pelos impasses nas negociações), disse que vai incluir efeitos sobre o clima na decisão sobre programas de ajuda internacional. Mas não foi além da retórica.

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"De todos os desafios imediatos que temos de enfrentar nesta semana — terrorismo, instabilidade, desigualdade, doenças —, há um que vai definir os contornos deste século mais dramaticamente que qualquer outro: a crescente ameaça da mudança climática", afirmou.

A cúpula apresentou compromisso de pesos pesados do setor empresarial, como os signatários da Declaração de Florestas: Unilever, Walmart, Nestlé, McDonald’s, Johnson & Johnson e outros.