O cientista político e historiador Samuel Feldberg, da USP, confessa que ainda não entendeu o pragmatismo da política externa brasileira quando a diplomacia do Itamaraty despreza a defesa de princípios de direitos humanos e de liberdade de expressão.
Que interesse nacional o Brasil defende ao tratar casos de direitos humanos com Irã, Cuba e outros regimes controversos?
Ainda estou tentando entender isso porque mesmo uma abordagem de política internacional pragmática não precisa abrir mão da defesa de princípios de direitos humanos. Veja o caso dos EUA e a China. Apesar dos interesses profundos, o então presidente George W. Bush, em visita ao país, não deixou de assistir a uma missa numa igreja pentecostal de Pequim, reafirmando o princípio da liberdade religiosa.
Ser mais duro com o Irã não poderia atrapalhar os interesses brasileiros?
Que interesses comerciais ou geopolíticos temos com o Irã ou com Cuba para não nos alinharmos às grandes democracias ocidentais? Qual a vantagem de passarmos a figurar ao lado de países de perfil autoritário, como Rússia ou China? Não temos um corrente de comércio tão grande com o Irã e nossa autossuficiência nos tirou da dependência do petróleo do país.
Vejo isso como uma imposição pessoal do presidente Lula, que pretende passar uma imagem de líder com influência internacional.
E tem conseguido?
A não ser que o objetivo seja o confronto aberto com os Estados Unidos e outros aliados ocidentais. Ou que o Itamaraty tenha algum receio do que uma postura de maior cobrança dos direitos humanos possa trazer como contrapartida desses países, na linha: "Não vou falar nada porque isso pode virar contra mim". O Brasil não é exatamente o paraíso dos direitos humanos, mas estamos longe de nos comportar como países autoritários.
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