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Brasil não ratifica participação no maior telescópio do mundo

A demora do Brasil em ratificar a adesão ao Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), acertada em 2010 pelo governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atrasa o início da construção do novo supertelescópio da instituição. Orçado em R$ 1 bilhão, o European Extremely Large Telescope (E-ELT) será o maior equipamento do tipo no mundo, capaz de gerar imagens mais nítidas que as do telescópio espacial Hubble e desvendar alguns dos maiores segredos do Universo, como a natureza das misteriosas matéria e energia escuras, e analisar a atmosfera de planetas extrassolares na busca por uma segunda Terra.

O projeto depende dos recursos que virão da inclusão do Brasil como o 15 e primeiro país não europeu do ESO para sair do papel. Do total do investimento, 300 milhões de euros sairiam das receitas comuns da organização, 400 milhões de recursos extras prometidos pelos atuais membros, cabe ao Brasil ajudar a financiar os 300 milhões restantes. Pelos termos do acordo, o país deverá pagar uma taxa de 130 milhões pela sua adesão à organização ao longo de dez anos, além de uma contribuição anual que vai variar de 30 a 50 milhões no mesmo período.

"Não posso começar o projeto sem a adesão do Brasil, o que atrasa o E-ELT", conta Tim de Zeeuw, diretor geral do ESO. "Não podemos construir o telescópio só com nossa receita. Precisamos do Brasil, assim como de todos os outros países-membros, para ter o dinheiro adicional. Quase todos os atuais integrantes já se comprometeram em fornecer os recursos extras, mas antes eles querem saber se o projeto é viável. Se o Brasil já tivesse ratificado a adesão, creio que já estaríamos prontos para começar a construção."

Benefício

Segundo Zeeuw, ao longo de todo 2011 ele tentou se encontrar com o ministro da Ciência, Tecnologia, e Inovação, Aloizio Mercadante, mas foi ignorado. "Tentei marcar audiência e não tive resposta, apenas silêncio", lamenta. "Entendo que a adesão precisa de ratificação do Congresso, mas este é um processo que foi bem-sucedido em todos os outros casos. É um passo formal que o governo comprometeu o país a dar em 2011."

A crise econômica na Europa preocupa o diretor geral do ESO. Apesar de ter o compromisso da maior parte dos países-membros, cresce a pressão por cortes de gastos dos governos. Por isso, Zeeuw teme que, se o Brasil não formalizar sua participação até o meio deste ano e, assim, garantir os recursos para a construção do supertelescópio, tanto o acordo de adesão quanto o próprio projeto do E-ELT podem ir por água abaixo.

De acordo com o diretor geral do ESO, os valores devidos pelo Brasil representam um desconto de 30% sobre o que seria o usual, já que a política da organização estabelece as contribuições segundo o tamanho das economia dos seus membros. No caso brasileiro, porém, o ESO levou em conta que, embora a economia brasileira seja a quarta maior do grupo, seu PIB per capita é muito menor que de todos os outros integrantes.

"Creio que o acordo é justo e um bom negócio para o Brasil", avalia. Segundo Zeeuw, só a partir do momento em que o Brasil oficializar sua entrada no ESO terão início as licitações para os grandes contratos de construção do supertelescópio. Com isso, as empresas brasileiras poderão participar das concorrências em situação favorável, o que poderá fazer com que pelo menos 50% dos recursos pagos pela participação na organização voltem ao país na forma de contratos para obras de terraplanagem, infraestrutura, estradas de acesso e estruturas metálicas, além de serviços de logística e até mesmo para o fornecimento de instrumentos de alta tecnologia.

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