"O Brasil não vai reconhecer o pleito de jeito nenhum". Categórico, o assessor especial da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, rebateu nesta quinta-feira a pressão dos Estados Unidos para que o governo Lula reconheça as eleições presidenciais em Honduras, marcadas para o dia 29 de novembro. Para ele, reconhecer as eleições seria dar um "atestado de bons antecedentes aos golpistas".
Marco Aurélio lembrou que as relações entre os Estados Unidos e a América Latina "já são muito ruins", ressaltando que, sobre este tema (eleição) "não há discussão" pois "Zelaya (presidente José Manuel Zelaya) foi deposto por um golpe" e reconhecer uma eleição preparada por um governo golpista "seria muito ruim pelo efeito demonstração que isso poderia ter".
Na quarta-feira, senador norte-americano Richard Lugar, líder dos republicanos na comissão de Relações Exteriores e confidente do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, divulgou um comunicado exortando o Brasil a reconhecer as eleições em Honduras, independentemente da volta de Zelaya ao poder. Disse ainda que a única saída para os hondurenhos superarem a crise que já dura cinco meses seria que países como o Brasil, em particular, reconhecessem as eleições marcadas para o dia 29.
"Não vamos reconhecer as eleições", reiterou Marco Aurélio.
"Reconhecer as eleições seria o mesmo que dar um atestado de bons antecedentes a um governo golpista. Não aceitamos isso", desabafou o assessor do presidente Lula. Para ele "o efeito demonstração de uma atitude como esta (de aceitar as eleições de 29 de novembro) pelo Brasil seria o pior possível".
De acordo com Marco Aurélio, não há prazo para saída de Manoel Zelaya da embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Zelaya se instalou lá no dia 21 de setembro, quando retornou ao país e se refugiou na representação brasileira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não reconhece o governo de facto de Roberto Micheletti, tem mantido Zelaya na embaixada brasileira na condição de convidado e avisou que não o entregaria às autoridades locais. "Não tenho ideia até quando Zelaya ficará lá (na embaixada). Vai ficar quanto tempo tiver de ficar", afirmou Marco Aurélio. "Ele continua lá como hóspede do Brasil", assegurou.
Ontem, durante discurso no Itamaraty, em almoço oferecido à presidente da Argentina Cristina Kirchner, o presidente Lula afirmou: "exigimos a pronta restituição do presidente Manuel Zelaya". E emendou: "caso contrário, as eleições de 29 de novembro estarão comprometidas e estará lançado um precedente perigoso. Este é o consenso de toda a América Latina e Caribe".
Esta declaração, de acordo com assessores do Planalto, deixa claro que de nada adiantará qualquer pressão dos Estados Unidos para reconhecer quem for eleito pelas eleições de 29 de novembro Demonstra ainda que os países da região estão unidos e que se os norte-americanos insistirem em defender que o resultado das eleições sirva para zerar o problema em Honduras, ficarão isolados.
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