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Brasília – Em conversas privadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro aos presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, que não gostou nem um pouco da atuação de ambos no episódio da nacionalização do gás boliviano. Foi o que revelou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante reunião na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

As palavras duras ficaram restritas aos bastidores para evitar que, acuado, Morales "radicalizasse" nas negociações com a Petrobrás ou se alinhasse de vez com Chávez. Uma atitude mais "estridente" do Brasil colocaria em risco o projeto de integração regional, que é caro ao governo, justificou.

Amorim, porém, bateu duro na forma "adolescente" com que a Bolívia conduziu o processo de nacionalização, colocando tropas do Exército na frente das instalações da Petrobrás. Ele classificou o ato de "desnecessário" e "espetaculoso" e afirmou que Morales agiu dessa forma por motivações eleitorais.

Durante as cinco horas em que ouviu duras críticas dos senadores à atuação do Brasil, o ministro mostrou que o episódio com a Bolívia vem sendo conduzido em dois níveis. No público, ficam as palavras amenas do governo brasileiro. "A política brasileira nunca será a do porrete, será sempre a da boa vizinhança", disse. Nos bastidores, a conversa é mais dura.

O presidente teria dito a Chávez que a presença de funcionários da estatal venezuelana de petróleo, a PDVSA, nas refinarias da Petrobrás na Bolívia colocava em dúvida o projeto do megagasoduto que trará gás da Bolívia até a Argentina, passando pelo Brasil. Morales tampouco teria sido poupado.

Segundo Amorim, as tropas bolivianas "não chegaram a entrar (na Petrobrás, no início do mês)". Ele disse que não havia motivo para reação por parte do Brasil. "Se entrássemos numa escalada de retaliações e ameaças, despertaríamos ‘irracionalidades’ do outro lado", disse.

Amorim disse que o governo brasileiro já esperava o decreto de nacionalização, que coloca em prática a Lei de Hidrocarbonetos, aprovada no ano passado pelos parlamentares bolivianos. A nacionalização tem apoio de 90% dos bolivianos, segundo referendo realizado há um ano, embasou inclusive a campanha eleitoral do presidente Evo Morales.

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