Davos O Brasil está disposto a fazer concessões no comércio de bens industriais e no setor de serviços, se houver chance de um acordo até abril nas negociações da Rodada Doha, disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso os Estados Unidos e a União Européia deverão melhorar suas ofertas para o comércio agrícola. Ele discutiu a rodada numa reunião com diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e vários dos principais negociadores.
Se americanos e europeus mostrarem disposição para um acordo, o Brasil tentará convencer os parceiros do Grupo dos 20 (G-20) a fazer as concessões necessárias a um entendimento, prometeu o presidente. Serão naturalmente, ressalvou Lula, ofertas proporcionais às possibilidades de cada país.
A Rodada Doha, afirmou, é um empreendimento político, mais do que econômico. Sua conclusão poderá abrir oportunidades de crescimento econômico nas áreas mais pobres, incluída a África, insistiu o presidente em vários momentos de sua participação no Fórum Econômico Mundial.
A conversa sobre as negociações comerciais, numa reunião fechada foi parte da programação do Fórum. Se houver acordo até abril sobre os pontos mais complicados, será politicamente mais fácil concluir a rodada este é o raciocínio.
No fim de junho vence a autorização do Executivo americano para assinar acordos sujeitos apenas a aprovação, mas não a emendas, pelo Congresso. Se as grandes questões ainda estiverem abertas será mais difícil conseguir uma prorrogação ou renovação da autoridade para negociar. Esta é, pelo menos, uma suposição corrente entre os negociadores.
Hoje, em Davos, cerca de 25 ministros há quem fale em número maior deverão reunir-se para mais uma tentativa de levar adiante a rodada. Nenhum resultado notável deverá sair desse encontro, segundo as avaliações ouvidas nos últimos dias, mas há quem aposte num avanço importante nos próximos meses.
A representante dos Estados Unidos para Comércio Exterior, Susan Schwab, declarou essa esperança. "Dependerá deles", disse ontem o chanceler Celso Amorim, referindo-se aos americanos. O Brasil continua a cobrar dos Estados Unidos maiores cortes dos subsídios internos à agricultura. Alguns desses subsídios causam distorções no comércio internacional, estimulando a superprodução e deprimindo os preços.