Pela primeira vez, o governo brasileiro abre as portas de sua diplomacia para a maior opositora do regime de Mahmoud Ahmadinejad, em um gesto político explícito para marcar o fim da política de vistas grossas para a repressão no Irã e para alertar que está finalmente disposto a escutar o que tem a dizer os dissidentes. O governo iraniano não escondeu a irritação e interpretou a atitude como um recado claro do Brasil de que, em direitos humanos, a lua de mel entre Brasília e Teerã acabou.

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A forma encontrada pela diplomacia brasileira para tomar esse passo foi a realização de um almoço, em Genebra, pela missão do Brasil perante à ONU em homenagem à dissidente Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz, perseguida pelo regime e refugiada na Europa.

Seu recado ao Brasil foi claro. "Se a comunidade internacional não agir, o Irã em breve se transformará numa nova Líbia", afirmou, durante o almoço que também contou a presença de embaixadores de países como Estados Unidos e outros que defendem uma posição mais dura contra o Irã.

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Ebadi, durante o almoço, pediu que Brasil e Estados Unidos adotem sanções políticas contra membros do regime de Ahmandinejad, como a negação de vistos para políticos e congelamento de ativos dessas pessoas envolvidas na repressão.

A vencedora do premio Nobel e considerada como uma das maiores opositoras de Ahmadinejad ainda defendeu a ideia dos EUA e da Europa de estabelecer na ONU um relator internacional que investigue as violações de direitos humanos no Irã. "Precisamos dessa investigação para abrir uma nova etapa do diálogo com o Irã. Isso seria um sinal importante para o povo iraniano que sofre com a repressão", disse.

A proposta vai à votação no dia 21 e o Brasil já indicou que poderá rever sua resistência à isso, algo impensável durante o governo Lula. A embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, que promovia o almoço, declarou aos convidados que o Brasil "apoiava" a posição de Ebadi.

Durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a opção do Itamaraty foi a de manter um diálogo apenas com o governo de Ahmandinejad e Lula chegou a criticar a oposição, classificando-os de simples "perdedores" e que não aceitavam o resultado das eleições. Ebadi alertou que Lula estava ofendendo o povo iraniano ao não atender aos apelos da oposição.