Um grupo de 36 palestinos do Iraque, refugiados na Jordânia depois da queda do regime de Saddam Hussein em 2003, decolou nesta quinta-feira (4) rumo ao Brasil para começar uma vida nova, informou a Organização das Nações Unidas (ONU).
"Oito famílias de refugiados palestinos deixaram o campo de Rueicheid rumo ao Brasil, onde o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (HCR) lhes dará toda a assistência necessária", disse em Amã a porta-voz da entidade, Rana Sweiss.
Trata-se do segundo grupo de palestinos a receber o acordo das autoridades brasileiras para se instalar no país.
Um primeiro grupo de 35 pessoas havia deixado o campo em setembro para se instalar no Brasil, com a ajuda do governo brasileiro e da ONU. Um terceiro grupo, de 37 pessoas, deve sair do campo de Rueicheid para o Brasil em 18 de outubro.
"Esperamos que eles se adaptem rapidamente e vivam felizes", declarou o embaixador do Brasil na Jordânia, Antonio Carlos Coelho da Rocha, que acompanhou o grupo até o aeroporto de Amã nesta quinta-feira.
"Seis crianças fazem parte deste grupo, entre eles um garoto que nasceu no campo. Também há uma mulher grávida, que deve dar à luz no Brasil", frisou o embaixador à agência France Presse.
Aulas de português
O governo brasileiro deve financiar aulas de português e fornecer documentos de identidade às famílias palestinas, que também receberão uma ajuda financeira mensal até que se tornem autônomas.
Os refugiados estavam instalados há cerca de três anos neste campo de passagem localizado perto da fronteira entre Iraque e Jordânia, que deve ser fechado depois da saída do terceiro grupo de palestinos, segundo o HCR.
Vários milhares de palestinos, que contavam com um "tratamento preferencial" sob Saddam Hussein, sofrem violências no Iraque. Alguns são seqüestrados, torturados e mortos pelas milícias xiitas iraquianas, segundo um relatório da organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI).
Primeiro grupo
O primeiro grupo de refugiados palestinos chegou no dia 21 de setembro no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Eles foram encaminhados a cidades do interior do estado e do Rio Grande do Sul, onde viverão em casas alugadas pela ONU.
No total, o país deve receber 107 palestinos até o fim de outubro. Eles viviam precariamente em um campo de refugiados na Jordânia, a 60 km da fronteira com o Iraque, de onde saíram logo após a invasão americana, em 2003.
Os integrantes do grupo não falam português, mas são acompanhados de um brasileiro do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Negociação
A vinda dos palestinos ao Brasil só foi possível após negociações do governo com a Autoridade Palestina, que prefere ver concentrados seus emigrantes em países como Canadá, Estados Unidos e Austrália. Para o governo palestino, isto facilitaria a volta dos refugiados para a criação de um Estado palestino.
Em entrevista à rede britânica BBC, Anne-Marie Deutschlander, representante do Acnur que acompanhou o grupo, disse que alguns dos palestinos tiveram medo de vir para São Paulo, porque ouviram dizer que é uma cidade violenta. "O argumento que eu dou para eles é muito simples: 'Vocês esqueceram que vieram de Bagdá?'", contou.
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