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Curitiba – A situação social dos imigrantes excluídos está cada vez mais tensa, afirma a advogada paulista Maria Isabel dos Santos Nivault, que há 20 anos vive em Paris. "O clima está pesado", conta ela pelo telefone. "O temor geral não está ligado ao presente, e sim à possibilidade de a situação se agravar."

Maria Isabel diz sempre se falou em inserção das minorias na França, mas isso não impediu a existência de barreiras econômicas e culturais. "Não há assimilação cultural por parte dos imigrantes. O quadro é de não-adaptação." A agressividade mútua entre franceses e imigrantes também contribui para a tensão. "O ódio racista é latente. É difícil o governo mudar o estado de espírito que reina em Paris."

Para a especialista em União Européia da Faculdades Curitiba, Elizabeth Accioly, a livre circulação no bloco, preocupação que levou os franceses a rejeitarem a Constituição da UE no referendo deste ano, é o pano de fundo do problema. "Os europeus estão sem perspectivas de trabalho e os imigrantes se sentem excluídos, como cidadãos de segunda classe." Esta pode ser uma das crises políticas mais sérias que o bloco irá enfrentar, prevê.

Para Maria Isabel, a revolta do subúrbio pela morte de jovens filhos de imigrantes ganhou a adesão de outros cidadãos descontentes com queda da qualidade de vida no país. A revolta, acha, virou um meio de expressão da insatisfação geral.

O descaso com os imigrantes também é apontado como alimentador da crise pela pernambucana Camille Cabral, da ONG Pastt (Prevenção, Ação, Saúde e Trabalho para os Trangêneros), que atua em Paris. "Em 40 anos, a França não soube gerir a imigração. A inserção social ficou de lado", diz ela acrescentando que a imprensa local não tem dado tanto destaque ao tema quanto os jornais estrangeiros.

Camille considera que a postura do ministro de Interior Nicolas Sarkozy, que chamou de "gentalha" os jovens dos subúrbios, trouxe o sentimento de raiva à população menos privilegiada. "A onda de violência assusta. Esperamos que pare imediatamente."

A tradutora carioca Mariana Le-Gal, que mora há cinco anos em Paris, acha que a revolta dos imigrantes foi crescendo aos poucos, à medida em que as oportunidades para eles foram sendo reduzidas. "Salários cada vez mais baixos, desemprego e discriminação fazem com que essas pessoas não encontrem espaço na sociedade. Eles querem o que se pedia na Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade", destaca. Mariana acha que a situação é preocupante, mas que os franceses precisam adotar políticas capazes de reverter a situação a longo prazo, o que passa necessariamente por uma política de atendimento e integração dos imigrantes e seus filhos.

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