Helena Misako estava no salão de beleza onde trabalha como barbeira em Nagano, a quase 200 quilômetros de Tóquio, quando um colega que havia saído para comprar comida chegou bastante assustado. Era 11 de março de 2011.
"Ele explicou o que estava acontecendo", diz Helena, lembrando que o homem descreveu as imagens da onda gigante arrastando veículos e tudo o mais que estava no caminho. Ele viu a reportagem na televisão da loja de conveniências. "E ninguém deu a mínima. Todo mundo continuou trabalhando e não se importou com o que ele estava falando", lembra a brasileira que vive no Japão.
A história é simbólica de como os japoneses lidam com a tragédia que abalou o país. Se depender deles como diz Helena , o sofrimento nunca será admitido em voz alta. "Eles são muito frios em relação a esse tipo de coisa. Não se expõem, não extravasam sentimentos", afirma, em entrevista por telefone na última quarta-feira.
A preocupação da família levou Helena a viajar para Curitiba cinco dias depois do tsunami e a ficar aqui 90 dias. De volta ao Japão há sete meses, ela conta que, embora a imprensa lembre a data e reportagens apareçam na mídia, os moradores de Nagano não falam no assunto. A cidade de Helena fica distante da costa e a única mudança de rotina que experimentou com a tragédia foi o racionamento de energia que mobilizou o país todo. Ainda assim, diz Helena: "Eles têm medo, mas não expressam".
A reportagem conversou com outra brasileira que deixou o Japão em julho do ano passado, preocupada com a saúde dos três filhos pequenos. Por questões pessoais, ela pediu para não ser identificada e conta que espera viajar de volta para o território japonês e para o marido em abril.
No Japão, onde vive há duas décadas, ela mora em Tsukuba, a 180 quilômetros de Fukushima. A cidade sofreu com falta de energia e de água, e os moradores viveram dias de medo, usando máscaras nas ruas, raramente saindo de casa. Algumas construções chegaram a ruir.
Para a brasileira de Tsukuba, o terremoto, o tsunami e o desastre radioativo, em vez de fragilizarem e deprimirem o país, acabaram fortalecendo-o. Como eles têm um poderoso senso de comunidade, explica ela, conseguem se unir e se ajudar para superar os problemas.
"Ainda existe muita preocupação. Eles [os moradores de Tsukuba] não têm para onde ir. [O dia 11 de março de 2011] é uma marca muito forte", diz a brasileira. "A personalidade dos japoneses fará com que eles sempre se lembrem da tragédia. Sempre vai ter um luto. E as gerações mais jovens terão de aprender com o sofrimento."