O soldado brasileiro da Legião Estrangeira acusado de matar quatro pessoas no Chade, na terça-feira, não acusou problemas psicológicos durante exames realizados antes de ele ser enviado em missão ao país africano mês passado. A informação foi dada à BBC Brasil pelo capitão de fragata Christophe Prazuck, porta-voz do Estado-Maior do Exército francês.
Segundo o porta-voz, a decisão de enviar Josafá de Moura Pereira ao Chade foi estudada com "atenção especial" pelo comando de seu regimento em razão do fato de ele ter desertado, ano passado, de uma missão em Djibuti, leste da África.
"Ele sofreu sanções por essa fuga e, logo após seu retorno à França, recebeu acompanhamento médico e realizou sucessivos exames psicológicos", afirma o porta-voz.
"Seu caso foi acompanhado e estudado. Na véspera da missão no Chade, o comando se reuniu para avaliar, com base em seu comportamento nos últimos meses, se ele era confiável", diz Prazuck.
"Tudo parecia funcionar normalmente, tanto em relação aos seus conhecimentos militares quanto no plano do relacionamento com seus camaradas. Foi concluído que ele poderia partir novamente em operação", diz o porta-voz.
Ele afirma que o Exército francês quis "passar a borracha e dar uma segunda chance" ao legionário.
Perseguição
Segundo o porta-voz militar francês, é normal, antes do início de cada missão da legião, analisar se os soldados têm condições físicas e psicológicas de enfrentar as dificuldades do local, "para evitar fraquezas nas tropas".
Segundo Prazuck, o soldado brasileiro, que integra o segundo regimento estrangeiro de infantaria da legião, ficou quase um ano no quartel de Nîmes, no sul da França, antes de ser enviado ao Chade.
"Durante esse período, não houve nenhuma indicação que demonstrasse dificuldades psicológicas", afirma o porta-voz do Estado-Maior do Exército francês.
A família do legionário, no entanto, afirmou que ele se sentia "perseguido por alguns soldados e oprimido".
Os soldados da Legião Estrangeira são considerados uma tropa de elite e "têm a reputação de serem resistentes e rústicos", diz Prazuck.
Pereira integrava, como legionário, a força de intervenção rápida da Eufor, da União Europeia, no Chade.
O legionário foi detido na quinta-feira pela polícia militar do Chade nos arredores de Abéché, no leste do país, enquanto tentava beber água em um poço. Ele estava vestido como civil.
O Exército francês avalia que os assassinatos, na terça-feira, de dois outros legionários, um soldado togolês e um camponês chadiano são devidos "a um acesso de loucura" e representam um "gesto incompreensível" por parte do soldado.
O porta-voz afirma ainda que o caso "é muito complicado juridicamente" em razão das diversas nacionalidades envolvidas (dois franceses, um togolês e um chadiano mortos) e que o legionário, apesar de brasileiro, estava servindo sob a bandeira europeia.
"Como ele estava servindo sob a bandeira da França, ele é considerado francês e deve ser julgado por um tribunal francês", diz o porta-voz do Exército.
Segundo ele, um acordo entre a União Europeia e o Chade sobre o estatuto das tropas que atuam no país prevê que os tribunais dos países da nacionalidade do soldado têm prioridade para julgar as ações.
O irmão de Josafá, Jeremias, também legionário no Chade, estaria desempenhando suas atividades normalmente na região, de acordo com o porta-voz.
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