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Os enormes investimentos ambientais em países em desenvolvimento previstos sob um esquema vinculado ao Protocolo de Kyoto devem ter efeitos positivos para a qualidade de vida, a energia limpa e as mudanças climáticas, disse o brasileiro José Miguez, supervisor nomeado pela a ONU para esses projetos.

As Nações Unidas e o Banco Mundial nutrem grandes esperanças para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que pode resultar em investimentos de US$ 100 bilhões em países em desenvolvimento, até o ano 2012.

A idéia é que os países ricos que não estão conseguindo cumprir suas metas de redução dos gases causadores do efeito estufa possa cumprir parte deles, investindo em projetos de energia limpa em países em desenvolvimento.

Mas tais projetos devem incluir várias metas, gerando empregos e energia limpa no longo prazo, além de reduções nos gases causadores do efeito estufa, disse o brasileiro, que este ano foi nomeado presidente do organismo da ONU que decide quais tipos de projetos de MDL são aceitáveis.

- Os benefícios ambientais para as gerações futuras precisam ser claros - disse Miguez. - A energia renovável cria uma estrutura estável para a reciclagem do CO2, ou, no caso da energia hídrica, para a não emissão desse gás. Precisamos criar incentivos para esse tipo de projeto, não para projetos sobre os quais estejamos em dúvida.

Miguez também preside o organismo brasileiro que aprova os projetos de MDL em âmbito nacional.

Sob o cabeçalho de "dúvidas", ele listou vários tipos de projetos em escala industrial a serem excluídos dos MDL, por temor de que possam sufocar empreendimentos menores.

Miguez se opôs ao financiamento da destruição do supergás causador do efeito estufa, o HFC 23, que é subproduto dos condicionadores de ar e possui quase 12 mil vezes o potencial de aquecimento global do dióxido de carbono (CO2).

Seus comentários podem preocupar o mercado emergente de carbono, que no ano passado viu 58% dos investimentos de US$ 2,5 bilhões em MDL dirigidos a projetos com HFC, que agradam aos investidores devido ao alto grau de redução de poluição que rendem, comparados ao CO2.

Sob os tipos de projetos sob estudo envolvendo os MDL, Miguez se opôs aos chamados projetos de captura e armazenamento de carbono que desviam o dióxido de carbono de usinas elétricas e o enterra, dizendo que o risco de vazamentos pode afundar esses projetos em percalços legais.

E ele não vê chances de países em desenvolvimento, como o Brasil, argumentarem que contabilizam suas florestas (que absorvem gases causadores do efeito estufa) como reduções de emissão.

- Se isso for incluído no MDL, o MDL será destruído - disse ele, observando que a Amazônia brasileira tem a capacidade de absorver mais de 300 vezes as reduções de carbono de que os países ricos precisam para adequar-se a suas metas sob o Protocolo de Kyoto.

Mas, para o tipo certo de projeto, Miguez acha que o MDL será tremendamente benéfico para todas as partes envolvidas, elevando-se para US$ 100 bilhões em investimentos nos países pobres até 2012 e, ao mesmo tempo, exercendo efeito maciço sobre as mudanças climáticas.

- Começamos no Rio em 1992 e agora temos 1 bilhão de toneladas de redução de CO2 planejadas sob a bandeira do MDL e outras reduções nos países desenvolvidos. Já avançamos muito, na minha opinião.

Miguez vê o protocolo de Kyoto como apenas o início de uma mudança global nas atitudes em relação ao aquecimento global, apontando para o sucesso que o Brasil vem tendo em substituir a gasolina, um combustível fóssil, pelo etanol, combustível renovável derivado do açúcar.

- O etanol brasileiro não tem nada a ver com o Protocolo de Kyoto ou com os mecanismos de mercado. Agora estamos pensando em usar o etanol como combustível de aviões.

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