Santos Em setembro de 2006, um ataque a tiros do grupo islâmico Exército da Jihad a um comboio militar americano que seguia de Tikrit para Bagdá deixou dezenas de insurgentes e civis mortos. Tiros, bombas e ataques suicidas fazem parte do cotidiano de quem vive no Iraque. O que poucos imaginam é a presença de um brasileiro entre os soldados da força de coalizão liderada pelos Estados Unidos. Mas o paulista Marcelo Olivetti Solano, de 33 anos, estava lá.
Naturalizado americano, Solano passou os últimos seis meses na guerra do Iraque. Ele sente orgulho em vestir a farda do "USA Army" e acredita que os EUA invadiram o Iraque realmente para acabar com o terrorismo.
No entanto, a sensação de matar pessoas o incomodou. "Minha cabeça ficou muito ruim com isso, matar para mim não é coisa de Deus. Então, lá eu entendi o que eu estava fazendo era meu trabalho, e que essa culpa não poderia cair sob as minhas costas porque eu era apenas um instrumento de algo que controla tudo isso, o Exército americano".
Sobre a morte dos civis, Solano diz que faz parte do que o exército chama de "efeito colateral" e que há programas e simulações para evitar esses efeitos. "Mas eles (os insurgentes) se escondem atrás da população. São covardes."
A história de Solano seria a de mais um brasileiro que acreditou no "sonho americano" se não fosse um detalhe: desde criança ele desejou a carreira militar. Porém, quando alcançou a maioridade, foi dispensado do Exército brasileiro por excesso de contingente. Seguiu com a vida e, aos 25 anos, deixou o emprego em uma agência de navegação em Santos para tentar a vida na Flórida. Entrou com visto de turista, trabalhou como garçom e atendente de posto de gasolina, viveu anos ilegalmente, até que se casou com uma brasileira naturalizada americana e conseguiu o cobiçado "green card". Em 2005, já casado com outra brasileira, alistou-se no Exército americano com a certeza de que iria para o Iraque.
Mesmo vendo de perto a destruição do país, Solano acredita que os iraquianos estão sofrendo menos agora que na época do governo de Saddam Hussein e diz que semanalmente chegam doações de remédios, comidas e roupas para os iraquianos.
Na base, que fica próxima a Tikrit, 140 quilômetros a noroeste de Bagdá, Solano é mecânico de helicóptero. Ele trabalha no turno da noite, das 20 às 8 horas, e não reclama de ter que dormir durante o dia. Seus rendimentos no exército são de cerca de US$ 4.700 por mês.
Além dos prazeres do capitalismo, o país mais poderoso do mundo deu até uma medalha para esse brasileiro. Solano conta que, em outubro, estava em cima do Jipe, em uma missão, e de longe, avistou um obstáculo. "Falei para os caras (outros quatro militares) que havia um fio na estrada. Falaram que não pararíamos. Então pedi para descer, peguei meu fuzil, apontei para onde estava o fio e atirei. Quando atirei, detonei a bomba, daí eles pararam o carro e nem acreditaram".
De férias em São Vicente, Solano embarca de volta para o Iraque esta semana. Os planos para sua carreira militar estão definidos: ele ficará mais seis meses no país, depois voltará para o Havaí e, em 2009, assumirá nova missão no Afeganistão.