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inquérito

Brasileiro pró-Rússia pede para ficar sob proteção policial na Ucrânia

Ativista de movimento ultranacionalista na Ucrânia capturam o brasileiro Rafael Lusvarghi, ligado a grupos pró-Rússia | SERGEI SUPINSKY/AFP
Ativista de movimento ultranacionalista na Ucrânia capturam o brasileiro Rafael Lusvarghi, ligado a grupos pró-Rússia (Foto: SERGEI SUPINSKY/AFP)

O brasileiro Rafael Lusvarghi pediu para ficar sob proteção policial na Ucrânia após ter sido atacado por membros do partido ultranacionalista Svoboda na sexta-feira (4), segundo a reportagem apurou junto a entidades defensoras dos direitos de acusados de separatismo no país.

Lusvarghi, 33, mora em Kiev e está à espera de um novo julgamento por ter integrado forças separatistas pró-Rússia no leste ucraniano em 2014, logo depois que a península da Crimeia foi reabsorvida pelo Kremlin. Ele chegou a ser condenado em 2017 a 13 anos de prisão sob acusação de terrorismo, mas foi liberado após dois meses por uma decisão de segunda instância que determinou um novo inquérito sobre o caso.

Na semana passada, a Rádio Europa Livre localizou Lusvarghi em um monastério na capital ucraniana e publicou em seu site uma reportagem sobre sua vida entre os monges. O Svoboda, uma das principais organizações nacionalistas do país, foi até o local e o deteve. Com as mãos amarradas, Lusvarghi foi deixado na porta do SBU, o serviço secreto ucraniano.

Isso foi uma demonstração política, já que o Svoboda quer que pessoas como o brasileiro sejam julgadas pelos serviços secretos, não pela Justiça. Lusvarghi não cometeu nenhuma infração: a única exigência legal é de que ele não deixe a região de Kiev até ter seu caso julgado de novo.

O Itamaraty não comenta o caso para preservar a privacidade do brasileiro. Afirma apenas que ele está bem e em segurança. O brasileiro não foi ferido, apesar de ter levado alguns tapas e ter sido humilhado publicamente. Seu advogado está fora da Ucrânia, mas segundo entidades de direitos humanos o pedido dele para permanecer sob custódia decorre do medo de ser atacado de novo.

Tortura

Sua defesa alega que ele confessou ter participado de atos terroristas sob tortura. Sua associação com os grupos separatistas da região do Donbass, no leste da Ucrânia, contudo é notória. Lusvarghi alistou-se numa espécie de “legião estrangeira” de paramilitares apoiadores do movimento que pretende ver a região unificada à Rússia. Fez propaganda pública na internet de sua militância e voltou ao Brasil em 2016, quando acabou preso por 45 dias por protestos contra a Copa do Mundo no país.

Após ser solto, ele caiu numa armadilha que ativistas dizem ter sido do serviço secreto ucraniano. Ele recebeu uma oferta falsa de trabalho na Ucrânia e, assim que desembarcou, foi preso. Sua condenação inicial foi a primeira de um cidadão não-ucraniano e não-russo por acusações de terrorismo associado à guerra civil no Donbass.

O Svoboda (“Liberdade”) está distante de ser uma entidade imaculada. É visto por analistas externos, e não só na Rússia, como uma organização neonazista que recorre sempre que pode à violência. As insígnias de seções da agremiação são similares à utilizadas por unidades da tropa de elite SS nazista. Tem cerca de 15 mil membros e 6 de 450 cadeiras no Parlamento, onde já chegou a ocupar 37 lugares. É visto como próximo de setores mais radicalizados do Exército e do serviço secreto da Ucrânia.

A guerra no leste do país está congelada, com escaramuças ocasionais. É um acerto cínico que interessa ao Ocidente e ao governo de Vladimir Putin, no qual já morreram cerca de 10 mil pessoas. A Rússia não quer absorver o Donbass, como os militantes gostariam, porque o custo econômico seria alto demais. Mas precisa manter a pressão sobre o governo pró-ocidental em Kiev e evitar que o país se torne “europeu” e integrado à aliança militar Otan, o que não é de seu interesse estratégico.

Potências rivais de Putin, por sua vez, usam o conflito para justificar a manutenção de sanções contra Moscou, que dificultam a vida do Kremlin desde 2014. Por fim, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, tem na ameaça constante uma razão para arregimentar apoio, vital para sua pretensão de continuar no cargo.

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