Curitiba O resultado do plebiscito a ser realizado hoje na Bolívia pode influenciar os interesses de agricultores brasileiros no país. Além da votação que formará uma Assembléia Constituinte, a população boliviana deverá responder a uma pergunta sobre a autonomia dos departamentos (estados). Caso 50% mais um dos votos sejam "sim", os 255 membros eleitos para redigir a nova Constituição deverão promulgar leis que permitam maior independência dos governadores.
Essa é a esperança dos brasileiros proprietários de terra na Bolívia, uma vez que Rubén Costa, governador de Santa Cruz, onde se concentra a agricultura do país, é favorável a uma reforma agrária menos radical.
"Na Bolívia, ninguém ousa ser contra a reforma agrária. Ela vai acontecer e possivelmente será o próximo passo de Morales após as eleições da Assembléia. O que pode mudar é o quanto que os interesses dos agricultores brasileiros serão atingidos. É muito difícil que alguns não sejam afetados, porque a quantidade de terra na mão de brasileiros é muito grande. A que nível isso vai acontecer é que ainda pode mudar, dependendo do resultado da votação deste domingo", afirma um funcionário do alto escalão do Itamaraty, que prefere não se identificar.
Ainda que o resultado do referendo seja favorável a autonomia nos Departamentos, Evo Morales pode conseguir minimizar a independência das regiões, se o seu partido eleger 2/3 dos deputados na Assembléia Constituinte. Com essa maioria, diminuem as chances de os Departamentos conseguirem aprovar uma lei que permita a cada governador decidir sobre como usar seus recursos naturais.
Consciência
"Acho que após as eleições as posições radicais do governo devem abrandar. O objetivo da autonomia é fazer lograr a vontade de cada região. Aqui em Santa Cruz, o governador tem plena consciência da importância da agricultura para a região e tenho certeza que ele conseguiria fazer uma reforma agrária sem prejudicar ninguém", diz o brasileiro Nilson Medina, um dos maiores produtores de soja da Bolívia.
O governo de Evo Morales já iniciou um processo de redistribuição de terras. No início do mês passado, ele entregou títulos de propriedade de terrenos para camponeses pobres em Santa Cruz. Foi o primeiro passo de um processo que promete redistribuir 2,2 milhões de hectares de terra para a população menos favorecida na Bolívia.
"Num primeiro momento, o que eles fizeram foi um conjunto de decretos, que outorgam as terras sem donos às comunidades indígenas. Até agora, eles não desapropriaram terras. Mas isso pode acontecer. O governo brasileiro tem conversado com o governo da Bolívia, para tentar minimizar os efeitos para os brasileiros. Mas é difícil que não afete", diz o funcionário do Itamaraty.
Para Medina, o tom do governo tende a diminuir após as eleições. "O tema da reforma agrária está sendo usado como plataforma de campanha. Não há necessidade de brigar por causa da terra. Se o governo lançar mão apenas das propriedades fiscais, como ele já faz, ainda vai sobrar terra. De qualquer forma, a autonomia nos estados seria um bem para toda a Bolívia. Já passou da hora de Morales descer do palanque e começar a governar o país. Acho que depois da Constituinte isso pode ocorrer", acredita o agricultor.
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