Londres (Reuters) – Dois diplomatas brasileiros juntaram-se ontem à investigação sobre a morte do eletricista mineiro assassinado no mês passado pela polícia britânica após ser confundido com um homem-bomba. A morte de Jean Charles de Menezes, de 27 anos, dentro de um vagão do metrô londrino, provocou pedidos para que o chefe de polícia de Londres, Ian Blair, fosse afastado de seu cargo. O incidente ocorreu um dia depois de quatro frustradas explosões na capital britânica, e quase duas semanas após atentados terem matado mais de 52 pessoas na cidade. "Estamos aqui para ver como a investigação funciona", disse Márcio Pereira Pinto Garcia, subdiretor do Departamento de Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, ao desembarcar no aeroporto de Londres. Ele chegou a Londres acompanhado de Wagner Gonçalves, da Procuradoria-Geral da República. Os dois se reuniram com John Yates, o vice-comissário-assistente da Polícia Metropolitana londrina, e também com Ian Blair. Yates voltou a pedir desculpas pela morte de Menezes. A polícia londrina disse que a reunião foi "positiva e construtiva", mas que o encontro não se restringiu aos detalhes do caso por causa de uma investigação de uma comissão independente.

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Amanhã, os diplomatas brasileiros farão perguntas aos integrantes da Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC, na sigla em inglês), espécie de corregedoria que investiga todas as mortes provocadas por policiais. Na semana passada, a IPCC disse que a polícia londrina resistiu inicialmente à investigação. Ian Blair, que inicialmente elogiou a ação dos seus policiais, rejeitou a pressão para renunciar e revelou no fim-de-semana que, até 24 horas após o incidente, não sabia que o suspeito morto era inocente. Documentos da comissão que vazaram na semana passada revelaram vários erros nos procedimentos e colocaram em dúvida os relatos iniciais da polícia e de testemunhas, que diziam que Menezes se comportava de modo suspeito.

Parentes do brasileiro têm cobrado a saída de Ian Blair por causa dos erros cometidos pela polícia e por contradições. Na noite de ontem, eles fizeram uma vigília e um ato de protesto em frente ao escritório do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em Downing Street. O premier está em férias em Barbados, no Caribe. O primo de Menezes, Alessandro Pereira, entregou uma petição na Downing Street pedindo um inquérito público sobre a morte de Jean Charles. Ele voltou a acusar a polícia de mentir sobre o episódio.

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No domingo, os jornais britânicos afirmaram que os agentes à paisana que seguiram o brasileiro depois que ele deixou o prédio em que morava não acreditavam que Menezes representasse uma ameaça imediata. Por isso, ficaram chocados ao ver policiais armados entrando no vagão, na estação de Stockwell, e dando oito tiros no brasileiro. Mas os policiais armados sustentam que não teriam baleado o rapaz se ele não tivesse sido apontado como suspeito pela equipe de vigilância. Os advogados da família de Menezes duvidam que a cúpula da polícia ignorasse a verdade após o incidente, apesar de Ian Blair dizer que o erro só foi confirmado no dia seguinte.

Cerca de 50 pessoas, algumas delas com cartazes com frases como "Justiça para Jean Charles de Menezes" e "Nós queremos a verdade", participaram do protesto, realizado exatamente um mês depois da morte do brasileiro. A família ainda não recebeu nenhuma notificação oficial sobre a indenização pela morte do eletricista.

Apesar da pressão, Ian Blair recebeu no fim de semana o apoio do primeiro-ministro e de outros integrantes do governo britânico, como o vice-primeiro-ministro, John Prescott, e o ministro do Interior, Charles Clarke.