A noite já terminava na base militar de Ramat David na última segunda-feira quando soou a sirene alertando para o risco de mísseis do Hezbollah atingirem a região. Imediatamente, o brasileiro Celso Hamer, de 29 anos, dirigiu-se com a esposa, que é capitã do quadro médico, a um bunker na própria instalação do Exército de Israel. Lá, juntamente com outras 50 pessoas, Celso ficou até 4h de terça-feira, à espera de notícias que pudessem fazê-lo voltar a rotina a salvo de um ataque da milícia libanesa.

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Entrar em um bunker já faz parte da rotina do paulistano Celso desde que Israel iniciou a ofensiva no Líbano após o seqüestro de dois militares pelo Hezbollah na semana passada. Na fábrica de uma empresa de irrigação, na cidade de Tiberias, um dos alvos recorrentes dos foguetes Katyusha lançados pela milícia, onde trabalha, a sirene é disparada algumas vezes ao longo do dia. E todos são levados para um bunker.

Apesar das privações que estar em um bunker provoca, Celso apóia a ofensiva israelense:

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- Sou judeu. É muito difícil ver o conflito apenas como brasileiro. Até porque eu já servi o Exército. Israel saiu do Sul do Líbano há seis anos e recentemente deixou a Faixa de Gaza. E agora foi provocado. O Hezbollah invadiu o território israelense, matou militares e seqüestrou outros. Se Israel aceitasse a troca de prisioneiros que o Hezbollah propõe, daqui a dois meses eles (os extremistas) seqüestrariam outros militares. Israel fez o que tinha que fazer.

Entretanto o representante comercial, que chegou a Israel em 1998, diz esperar que o conflito não dure muito, pois teme que a demora e o aumento do número de civis mortos só beneficie os extremistas islâmicos do país vizinho.

- Isso vai durar umas semanas, até que a diplomacia possa entrar em jogo. Mas sinceramente acho difícil que eles devolvam os soldados vivos. Quanto mais tempo o conflito levar pior será para Israel e melhor para o Hezbollah - afirma por telefone, descansando em casa enquanto a sirene não vem.

O também brasileiro Alexandre Roitman, de 24 anos, não tem entrado em bunkers, mas o seu temor não é menos latente. Servindo o Exército de Israel, o carioca que sonha fixar residência no país do Oriente Médio está baseado em Beersheva, no sul israelense, longe da zona de conflito. Mas a distância não livra Alexandre, que se prepara para ser motorista de caminhão do Exército, de viver a tensão do conflito. O medo dele é outro: ser seqüestrado dentro de Israel e entregue a extremistas palestinos.

- Estou longe da área de conflito e não sinto muito perigo direto. Mas isso não me livra de temer ser seqüestrado por terroristas, até mesmo árabes-israelenses de alguma vila - conta Alexandre, que está constantemente em contato com os pais no Rio para acalmá-los. - A gente que serve o Exército vive sempre na tensão. Quando pego um ônibus fardado fico bastante preocupado. Outro dia uma colega quase foi levada no deserto de Negev - acrescenta.

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Mas as explosões que vêm atingindo cidades do Norte de Israel também causam apreensão em Alexandre:

- Quando os foguetes do Hezbollah explodem eu saio ligando para saber de amigos que estão nas cidades atingidas. Toda hora converso com pessoas que estão muito assustadas.

Para o militar, que pretende ficar defintivamente no Estado judeu, a ofensiva contra o Hezbollah, que vem sendo classificada como "desproporcional" por autoridades do mundo inteiro, explica-se pelo "valor que Israel dá à vida humana".

- Para Israel, um único soldado morto, ferido ou seqüestrado é motivo para uma guerra. Israel vai à guerra por causa dele. Aqui se dá valor à vida humana. Uma única vida já é motivo para ir à guerra - conta o carioca.

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