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A devastadora passagem do furacão Katrina pelo Sul dos EUA também atingiu algumas famílias no Brasil. Aflitas, elas tentam obter notícias de parentes que estavam na região durante a terrível tempestade que provocou esta semana mortes e enchente em várias áreas. Duas famílias que conseguiram, contato, porém, estão apenas em parte aliviadas: o relato que ouviram da realidade dentro do Superdome, o estádio onde se concentraram milhares desalojados, é assustador e muito diferente do que mostram as redes de TV americanas. Por telefone, duas brasileiras falaram que há muitos mortos no local, escassez de água e comida e cenas de disputa por sobrevivência. Até casos de suicídio elas chegaram a relatar.

A cantora Sue Helen Vassão, de Curitiba, teve notícia na noite de terça-feira do paradeiro de sua irmã, a publicitária Mônica Vassão, de 25 anos. Juntamente com a amiga Letícia Figueiredo Alves da Silva Campos, de 21 anos, ela refugiou-se no Superdome, gigantesco estádio de futebol americano para onde foram levados milhares de desalojados de Nova Orleans, na Louisiana, que está praticamente submersa.

Na breve conversa por celular, a publicitária que faz intercâmbio cultural nos EUA, relatou que, na arena esportiva, há mortos e estão faltando água e alimentos. O que restou, disse ela, está sendo disputado com ferocidade pelos sobreviventes.

- Minha irmã ligou na noite de terça-feira - disse Sue Helen. - Ela contou que há gente morta no Superdome e que estavam se formando grupos rivais para disputar o pouco de água e comida que ainda restava. Eles estão brigando entre si, estão se matando. A Mônica disse, ainda, que outras pessoas não estão suportando o sofrimento e estão se suicidando. Ele não contou muitos detalhes, teve que falar rapidamente - disse Sue Helen.

O Consulado do Brasil em Houston, no Texas, informou que, como a área de Nova Orleans está inacessível, vai esperar a transferência de Mônica e Leticia do Superdome para a cidade onde se encontra a representação, para então encaminhá-las para o Brasil ou outro local dos EUA. O governo da Louisiana determinou a desocupação total da cidade de Nova Orleans em até dois dias, já que há risco de transmissão de doenças pelas águas. De acordo com o consulado, há pelo menos uma dezena de brasileiros isolados em hotéis da cidade que esperam o resgate e a remoção para Houston.

- Pelo que contou, a Mônica está no limite das forças dela. Ela sempre foi meio medrosa e dependente. Até para usar um secador de cabelo ela pedia a minha ajuda. A viagem aos EUA foi a primeira que ela fez sozinha. Estava feliz, dizendo que estava tendo uma outra experiência de vida. Não queria voltar tão cedo ao Brasil, mas acho que agora não vai mais voltar aos EUA - disse Sue Helen.

A família de Letícia entrou em contato com a mineira na tarde desta quarta-feira. Sônia Amaral Figueiredo, mãe da estudante que está há quase anos fazendo intercâmbio cultural no Kansas, contou que a filha está razoavelmente tranqüila, apesar da situação tensa no Superdome.

- A situação, é claro, está terrível lá dentro. Mas ela está tentando se controlar - contou Sônia. - Ela disse que há mais de mil mortos no estádio e que, quando fica escuro, há atos de vandalismo. Ela vê muita confusão, mas está procurando ficar com um grupo de uns 50 estrangeiros para tentar se defender. Meu coração está doendo. Conversei com o cônsul (de Houston) e ele prometeu fazer o que for possível para tirá-las de Nova Orleans - emendou a mineira de Belo Horizonte.

O namorado de Letícia, André Costa Nahur, disse que o contato por telefone com a estudante conforta, mas também aumenta a angústia de todos:

- A gente sabe pela imprensa que o nível da água está aumentando, mas o relato dela do Superdome mostra uma realidade que as TVs não estão exibindo e, assim, o nosso receio aumenta.

Já Leticia Vandystadt, que mora no Rio, perdeu contato com o marido, que estava em Nova Orleans no domingo, pouco antes de o furacão passar pela cidade da Louisiana. Segundo o consulado brasileiro em Houston, José Cândido Sampaio de Lacerda Neto estaria no hotel Astor Plaza, mas não conseguiu ser contactado por causa dos caos em que se encontra o sistema de telefonia em Nova Orleans.

"Nossa família está extremamente preocupada com o paradeiro e a situacão dele após essa tragédia. A mãe está num estado de saúde muito delicado e correndo risco de vida", contou Leticia, por e-mail.

Embora seguros e abrigados, o também brasileiro Antônio Medalha e a esposa, não vêem a hora de deixar o hotel em que estão hospedados em Nova Orleans. Eles reclamam que as autoridades locais não estão sendo ágeis no trabalho de resgate e auxílio das vítimas. O plano dos dois é tentar seguir até a cidade de Baton Rouge, onde acreditam estar a salvo.

"O aeroporto e seus acessos estão fechados sem previsão firme de abertura. As autoridades estão agindo muito vagarasoamente. Estamos sem luz e sem água e muitos não têm comida. A toda hora, pessoas entram no hotel em busca de abrigo, água e comida", disse, por e-mail, Antônio.

Enquanto alguns brasileiros tentam deixar a região atingida pelo Katrina, um outro seguiu diretamente para o centro da tragédia. Sebastião Aparecido Bonato, que possui uma empresa de restauração de estruturas prediais em Nova Jersey, foi chamado pelo governo americano para ajudar na prevenção de colapso nas construções localizadas em áreas alagadas.

"Estamos com dificuldade de nos aproximar da área devido à inacreditável área inundada", relatou Sebastião por e-mail. "É assustador o nível da água, há lugares em que não vemos o teto das casas. Estamos ajudando a Guarda Costeira, abrindo buracos no topo das casas para que eles possam entrar e ver se há sobreviventes ou corpos", acrescentou.

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