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Soldado brasileiro fala com venezuelanos perto da fronteira entre Venezuela e Brasil, em Pacaraima, no estado de Roraima, 26 de fevereiro. Foto: Nelson Almeida / AFP
Soldado brasileiro fala com venezuelanos perto da fronteira entre Venezuela e Brasil, em Pacaraima, no estado de Roraima, 26 de fevereiro. Foto: Nelson Almeida / AFP| Foto:

Caminhoneiros, turistas que estavam na trilha do Monte Roraima, além de brasileiros que estavam no lado venezuelano por outros motivos após o fechamento das fronteiras do país vizinho enfrentam dificuldades para voltar ao Brasil.

Nesta terça-feira (26), um grupo de brasileiros retido na cidade venezuelana de fronteira com Pacaraima, em Roraima, começou a regressar ao país. O vice-cônsul do Brasil em Santa Elena do Uairén, Ewerton Oliveira, afirmou ter obtido aval parcial do regime chavista para repatriar pessoas com problemas de saúde. As negociações estavam emperradas, com a necessidade de autorização de Caracas.

“Acabei de receber autorização do general venezuelano para que os brasileiros com situação de saúde possam vir buscar tratamento aqui em Pacaraima ou em Boa Vista. Vou reunir todos esses para possivelmente tentar atravessar com eles até o final dessa tarde”, afirmou Oliveira na tarde desta terça-feira.

Segundo o vice-cônsul, 100 brasileiros haviam buscado assistência na representação até a noite de ontem, entre turistas e residentes na Venezuela. Desse total, entre 10 e 15 estão doentes ou em recuperação.

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Uma mulher, por exemplo, havia buscado uma clínica venezuelana para realizar uma cirurgia de varizes e não conseguiu retornar.

Oliveira informou que mais caminhoneiros brasileiros foram autorizados a se deslocar até a aduana na fronteira com Pacaraima, onde poderão recolher as carretas e aguardar a permissão de travessia.

Há 30 deles no país, alguns com os veículos estacionados no acostamento de estradas. A fronteira segue oficialmente fechada pelo regime do ditador Nicolás Maduro.

Mais cedo, o diplomata atravessou a fronteira em um veículo oficial para comprar alimentos, água, medicamentos analgésicos e contra hipertensão para os brasileiros que aguardavam na representação diplomática o aval de Caracas.

O vice-cônsul chegou a conversar com um oficial das forças armadas bolivarianas na linha de fronteira. Ele estava acompanhado de oficiais brasileiros do Exército.

O encontro ocorreu quando um grupo de militantes chavistas veio da Venezuela até a linha de fronteira com o Brasil em Pacaraima fazer um manifesto gritando “Pátria Livre!”. O regime de Nicolás Maduro tenta gravar imagens para convencer seu povo de que há normalidade na fronteira. Civis foram transportados em ônibus escolares para limpar e fazer pequenos reparos na estrada, danificada nos confrontos.

Ajuda para retornar

O Itamaraty passou a procurar desde sábado (23) brasileiros residentes na Venezuela para saber se há interesse em obter ajuda para deixar o país. “Em caso de agravamento da situação política na Venezuela, teria interesse em retornar ao Brasil, caso o governo brasileiro venha a oferecer meios de transporte?”, indaga, em um formulário.

O questionário, classificado como um alerta, tem sido enviado por email e também disponibilizado no site do consulado do Brasil em Caracas.

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A assessoria de imprensa do Itamaraty afirmou que a estimativa de brasileiros residentes na Venezuela permanece em torno de 13 mil – a mesma de um mês atrás.

Dos 1.900 que responderam ao questionário até o momento, cerca de 600 manifestaram interesse em repatriação se a situação se deteriorar. O Ministério das Relações Exteriores afirmou aguardar novos contatos para então eventualmente executar um plano de retirada.

Surpresa

Segundo o Itamaraty, na segunda-feira (25), 30 brasileiros conseguiram cruzar a fronteira para o lado brasileiro.

Cidadãos brasileiros estabelecidos há anos na Venezuela receberam o contato do consulado com surpresa, por não terem feito qualquer solicitação prévia.

“Em vista da situação por que passa a Venezuela, este consulado-geral está coletando informações dos brasileiros residentes no país para fins de adotar medidas cabíveis de assistência consular”, introduz o Itamaraty na correspondência.

Há também perguntas sobre quantidade de dependentes e endereço completo.

Ainda no sábado, o consulado emitiu “aviso importante” em que “alerta aos cidadãos brasileiros residentes na Venezuela sobre os riscos decorrentes da atual situação, e recomenda que evitem as áreas de conflito e limitem a sua mobilidade ao estritamente necessário”.

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“O consulado-geral recomenda, também, aos turistas brasileiros que evitem viajar à Venezuela neste momento e enquanto perdurar a situação.”

Em dezembro de 2017, o então embaixador brasileiro na Venezuela foi declarado “persona non grata” – expulso, para efeitos práticos. Desde então, o Brasil mantém apenas o consulado como representação diplomática no país.

Zona de conflito

Na noite de domingo, um grupo de turistas brasileiros retidos na Venezuela conseguiu voltar ao país, em picapes com a escolta da Guarda Nacional Bolivariana. O geólogo e guia turístico Alexander Cordeiro, 46 anos, acompanhava o grupo na viagem e disse ao jornal O Estado de S. Paulo que os guias sabiam da tentativa de entrada da ajuda humanitária, mas não tinham notícias diárias por falta de conectividade na montanha. “Quando baixamos do Monte Roraima, há quatro dias, fomos para o consulado, porque não podíamos passar para o Brasil. Havia tiroteios, bombas de gás lacrimogêneo. Tivemos de circundar a zona de conflito, caminhando por mais 3 horas”, disse Cordero, que trabalha para agências e operadoras de Boa Vista. “Os turistas estavam felizes, mas quando viram tudo, uma começou a chorar e eles ficaram estressados”.

Segundo ele, o grupo conseguiu uma autorização especial de autoridades chavistas para atravessar a fronteira na noite de domingo. Cordero, que é venezuelano, foi barrado e teve de voltar ao Brasil por trilhas abertas na mata. A reportagem o encontrou quando ele caminhava numa das trilhas. Ele percorreu um trajeto mais longo, de 5 horas, para escapar dos militares venezuelanos.

Cordero afirmou que o vice-cônsul Ewerton Oliveira negociou com o comandante da GNB na fronteira a liberação da passagem. Oficiais do Exército também vinham negociando a passagem dos turistas.

Segundo eles, 25 mochileiros voltaram ao país no domingo. Todos brasileiros. Uma japonesa ficou retida na Venezuela. Sem assistência consular, ela não tinha garantias de que passaria da fronteira e abrigou-se na casa de um funcionário do consulado brasileiro em Santa Elena de Uairén.

Segundo oficiais do Exército brasileiro, há uma diminuição da tensão na fronteira, com aberturas pontuais do bloqueio para a passagem de brasileiros. As tratativas também envolvem um grupo de 30 caminhoneiros retidos na Venezuela - 21 carretas estão recolhidas em um pátio da aduana venezuelana.

Passagem pela mata

Segundo o caminhoneiro brasileiro Junior Vieira, a GNB permite a passagem pela mata para tomar banho e comprar mantimentos no Brasil. Eles, porém, retornam à Venezuela para dormir nos caminhões. "Eles já nos conhecem, então fica mais tranquilo", disse Vieira. Os motoristas têm reclamado dos venezuelanos radicados em Pacaraima, que provocaram confrontos com militares chavistas, aumentando a tensão.

Nesta segunda-feira, o Grupo de Lima descartou a realização de uma intervenção militar na Venezuela após reunião em Bogotá.

No texto, o grupo de 14 países da região, entre eles o Brasil, afirma que a transição democrática na Venezuela deve ser conduzida “pacificamente pelos próprios venezuelanos”, com apoio de meios políticos e diplomáticos e “sem o uso da força”.

No entanto, os conflitos nas fronteiras da Venezuela com Brasil e Colômbia, decorrentes da tentativa de entrada de ajuda humanitária, já deixam mortos e feridos.

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