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O paulistano Leandro Galvão, antes e após a chegada à Ucrânia: “Mesmo que isso custe as nossas vidas, lutaremos do lado certo da história”
O paulistano Leandro Galvão, antes e após a chegada à Ucrânia: “Mesmo que isso custe as nossas vidas, lutaremos do lado certo da história”| Foto: Acervo pessoal

Enquanto mais de 2 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia desde o início dos ataques da Rússia, em 24 de fevereiro, voluntários de diferentes nacionalidades estão entrando no país para ajudar as forças de resistência, incluindo brasileiros.

A Gazeta do Povo conversou com brasileiros que responderam ao chamado do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que no domingo da semana passada (27) anunciou a criação de uma Legião Internacional para estrangeiros que desejam se voluntariar para as Forças Armadas da Ucrânia.

No dia seguinte, o governo ucraniano autorizou um “regime temporário de isenção de visto” para facilitar a entrada de estrangeiros que possam ajudar na defesa contra a invasão da Rússia.

“Do lado certo da história”

Um grupo de voluntários, liderado pelo paulistano Leandro Galvão, 49 anos, ex-jogador profissional de futebol e ex-militar do Exército, está agora em Kiev, capital da Ucrânia, ao lado dos combatentes ucranianos.

O grupo partiu da Estônia na terça-feira passada (1º) e entrou no país pela fronteira com a Polônia - como o espaço aéreo ucraniano está fechado desde o início dos ataques, o ingresso no país está sendo feito pela fronteira com os países vizinhos não alinhados com a Rússia. Depois, seguiram para Kiev por caminhos secundários, com ajuda de dois ucranianos.

Segundo Galvão, durante a travessia o grupo foi hostilizado pela guarda de fronteira polonesa, que deixou que entrassem com apenas um celular - mesmo assim, a câmera deste foi danificada para que “não tirem fotos e ‘vendam’ atrocidades durante os combates”.

“Disseram: ‘Vocês vão morrer, e mortos não usam telefone’”, disse o brasileiro, que acrescentou que, enquanto quebrava a câmera, o polonês afirmou: “Se algum de vocês sobreviver, ligue para nós sorrindo”.

Além de Galvão, compõem o grupo o armeiro paulista Gustavo Avelar, de 33 anos, o profissional de tecnologia da informação (TI) estoniano Wladimir Picetti, de 40, e o engenheiro químico nova-iorquino Robert Stone, de 45 anos.

“Os ataques são covardes, sem um motivo aparente. Mesmo que isso custe as nossas vidas, lutaremos do lado certo da história e defenderemos as crianças, as mulheres e os idosos ucranianos”, disse Galvão.

Segundo ele, os militares ucranianos esperam um grande ataque russo a Kiev a qualquer momento. “Deveria ser um ataque surpresa, mas a cidade está preparada”, garantiu.

Brasileiros se articulam nas redes sociais

Desde o início dos conflitos na Ucrânia, brasileiros têm se organizado em grupos nas redes sociais para compartilhar informações sobre como entrar no país como voluntários.

Um deles é o policial militar Leonardo Lauria, 27, morador de Jundiaí, no interior de São Paulo, que pretende pegar um voo fretado em Campinas com destino à Polônia, e de lá seguir para a frente de batalha na Ucrânia.

Lauria informou que o preço do fretado está por volta de 335 libras esterlinas, equivalente a R$ 2,4 mil. “O valor é um pouco pesado, mas estou crente de que talvez precisarei de uma passagem só de ida", disse.

Outro que tenta ir é o empreendedor Bruno Evans, 27, morador de Campinas, que teve o dinheiro que utilizaria para comprar a passagem de avião, cerca de R$ 5 mil, roubado de sua conta bancária misteriosamente após conceder entrevista ao portal UOL sobre sua pretensão de ir à guerra como voluntário.

Evans também contou que teve a sua conta no Twitter bloqueada e a sua conta do Telegram deletada. Ele acredita que foi vítima de um ataque hacker russo. Evans abriu uma vaquinha para recuperar o valor e poder ir para a guerra.

“Logo após a entrevista, me aconteceu isso. Fiquei desorientado, sem saber o que fazer. Vi todos os meus planos irem por água abaixo. Mas isso não me desmotivou, pelo contrário. Acredito que, se as pessoas me ajudarem a ir, eu me sentirei ainda mais honrado em fazer valer a pena a confiança que estarão me dando”, disse Evans.

Um outro grupo está organizando uma vaquinha para angariar fundos para patrocinar sua ida à Ucrânia. O grupo é administrado pela corretora de imóveis uruguaia I. N. (suprimimos o nome da entrevistada após ela receber ameaças de morte), 30, moradora da cidade de São Caetano, em São Paulo, que diz já ter cerca de 160 voluntários cadastrados.

I.N. disse que está atuando como representante da Legião Internacional no Brasil e que está à procura de patrocinadores para financiar a ida dos voluntários à Ucrânia.

“Neste primeiro momento, gostaríamos de enviar 30 pessoas. Para isto, eles estão providenciando passaporte e colocando as vacinas em dia. Já recebemos alguns recursos, mas um patrocinador é fundamental para conseguirmos nosso objetivo, pois as passagens para ir para lá estão em torno de R$ 3 mil a R$ 7 mil”, contou I.N..

Caso a guerra acabe nos próximos dias, I.N. diz que os recursos serão destinados aos refugiados ucranianos.

Como ir à Ucrânia?

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, com a criação da Legião Internacional e a isenção de visto para estrangeiros, cerca de 20 mil voluntários de 52 países pediram para lutar na guerra contra a Rússia. De acordo com o encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia em Brasília, Anatoliy Tkach, a lista inclui mais de cem brasileiros.

No site criado pelo governo ucraniano para recrutar estrangeiros, foram colocados os passos a serem seguidos pelos interessados em se juntar à Legião Estrangeira:

  • entrar em contato com a Embaixada da Ucrânia no seu país e informar a intenção de ingressar na Legião Internacional de Defesa da Ucrânia;
  • fornecer documentos, como passaporte para viajar para o exterior, documentos confirmando serviço militar e participação em combate;
  • levar os documentos à embaixada para entrevista com o cônsul;
  • enviar um pedido para se inscrever para o serviço militar voluntário nas forças armadas da Ucrânia.

Para que possam se juntar à Legião, os voluntários devem preencher um formulário detalhando a sua experiência militar. E também é recomendado que levem seu próprio equipamento, como capacete e colete à prova de balas. A passagem deve ser custeada pelo próprio voluntário.

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