Curitiba Pela primeira vez o Brasil recebeu o World Food Prize, considerado o Nobel da Agricultura. Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura do governo Ernesto Geisel (19741979), e Edson Lobato, ex-diretor e pesquisador emérito da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Cerrados, foram os vencedores do prêmio concedido pelo Departamento de Estado Americano em 2006. Além dos dois brasileiros, o pesquisador norte-americano Colin McClung também foi laureado, mas por um trabalho desenvolvido no Brasil, nos anos 50.
Lobato e McClung foram premiados pelos estudos que permitiram a transformação do pobre solo do cerrado brasileiro em terra fértil, enquanto Paolinelli recebeu o prêmio por ter dedicado sua carreira política ao desenvolvimento agrário dessa região no Brasil. Cerca de 80 candidatos, indicados por universidades norte-americanas, concorreram ao prêmio. A premiação de US$ 250 mil (R$ 575 mil) foi dividida entre os três vencedores.
Paolinelli, que nos anos 70 foi responsável por dar continuidade à criação da Embrapa, iniciada na década anterior, também se sentiu gratificado com a homenagem.
A entrega do prêmio ocorreu na Câmara de Comércio da capital do estado de Iowa, Des Moines, em outubro. "Foi melhor que a festa do Oscar", diz Lobato. Brincadeiras à parte, o pesquisador considera a premiação muito importante para um país que no exterior costuma estar associado a notícias negativas. "O reconhecimento foi mais comentado lá fora do que no Brasil."
Lobato, pesquisador da Embrapa desde 1973, dedicou sua vida aos estudos sobre como tornar fértil o pobre solo do cerrado. O incentivo para o desenvolvimento da agricultura no cerrado se deu no início da década de 70, quando se percebia a necessidade de ampliar as áreas de cultivo no Brasil. O cerrado era uma opção, mas até então o solo era uma "terra cansada", exaurida de suas reservas minerais. Enfim, um solo pobre que precisava ser corrigido para produzir mais.
Hoje, a região tem status de celeiro. Cerca de 60% da soja produzida no Brasil é cultivada no cerrado, asssim como 89% do algodão, 59% do café, 44% do milho e 37% do arroz. "Nossos estudos alimentam a esperança de que países africanos possam resolver o problema da fome se conseguirem converter seus solos pobres em férteis", declara Lobato.
Paolinelli, por sua vez, destaca a importância da mudança da política agrícola para o desenvolvimento da região. "Até 1970 os empréstimos agrários eram feitos via cédula rural, pelo cadastro de produtos e bens", recorda. "Quando fui secretário de Agricultura de Minas Gerais (19711974) implantamos o Plano de Crédito Rural Integrado, que levava em conta todo o processo produtivo e não apenas produtos e bens". Para ele, a revolução em curso no cerrado nos últimos 30 anos é resultado de boas políticas públicas aliadas às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa.
A receita, segundo o ex-ministro, são governos de visão, vontade política e meios apropriados para a pesquisa.
Antes da Embrapa, lembra, havia poucos técnicos especializados. "Enviamos mais de 1.500 para estudar fora e trazer conhecimento para cá. Foi o pontapé inicial da Embrapa." Hoje Paolinelli vê uma Embrapa em risco, operando muito abaixo de sua capacidade. "Paramos no tempo. Algumas unidades estaduais foram fechadas. É uma situação preocupante."