Entre 1996 e 2016, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) recrutaram forçadamente mais de 18 mil crianças, em sua maioria campesinos, indígenas e afrodescendentes. A estimativa foi divulgada nesta terça-feira (11) pela Justiça Especial para a Paz (JEP), órgão colombiano criado após o acordo de paz com as Farc para investigar crimes cometidos no âmbito do conflito armado.
"Instrumentalizar meninos e meninas no conflito causou dor à sociedade colombiana", disse o presidente da JEP, Eduardo Cifuentes. "Estamos perante uma política implementada de forma sistemática através de várias práticas que levaram à instrumentalização e degradação das crianças que foram usados de várias maneiras pelas Farc", continuo, acrescentando que este é um dos feitos mais graves que foram cometidos durante o conflito.
A Jep chegou a uma estimativa de 18.667 crianças após analisar 31 bases de dados de grupos de vítimas e do Estado, além do depoimento de 274 pessoas que sofreram recrutamento forçado. Mais de metade destes menores tinham entre 15 e 17 anos. Além disso, na lista de menores registrados pela JEP, quase 70% ainda são procurados pelos familiares, podendo se tratar de vítimas de homicídios.
Até agora, o constatou até agora que menores "foram vítimas de condutas que afetaram sua autonomia e integridade sexual, como abortos e anticoncepção forçadas, estupros", havendo mais de 50 casos desse tipo. A partir de agora, a JEP vai investigar condutas associadas, como violência sexual e de gênero, desaparecimento forçado, bem como homicídio, tortura, tratamento cruel e degradante.
Por ser fruto de um acordo de paz, a JEP pode impor penas mais leves do que as previstas no sistema de justiça comum da Colômbia. O órgão também investiga sequestros por parte das Farc e execuções extrajudiciais que teriam sido cometidas pelo exército colombiano.