O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, durante debate após o discurso da rainha na Câmara dos Comuns, 14 de outubro de 2019| Foto: AFP PHOTO / Jessica Taylor /UK Parliament

Negociadores do Reino Unido e da União Europeia para o Brexit se reuniram na noite de terça-feira para tentar finalizar um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia. Diplomatas e autoridades afirmaram que eles podem estar perto de fechar um acordo de última hora.

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Com as negociações se aproximando do prazo de meia-noite desta terça-feira imposto pelo principal negociador do Brexit da UE, Michel Barnier, o Reino Unido parecia disposto a fazer concessões, segundo diplomatas a par das discussões.

O primeiro-ministro Boris Johnson apostou seu futuro político em liderar a saída de seu país do bloco até 31 de outubro - ou pelo menos em ser visto como tendo tentado o melhor que pôde.

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Mas, embora ambos os lados tenham parecido mais otimistas do que estiveram nos últimos meses de que um acordo possa estar próximo, ainda não está claro se isso realmente acontecerá. Johnson não apenas precisa primeiro negociar com a União Europeia - uma tarefa difícil por si só - como também deve vender o acordo em casa. A política doméstica britânica pode ser implacável, como aprendeu a antecessora de Johnson, Theresa May, depois de fazer um acordo com Bruxelas, para vê-lo ser derrotado três vezes no Parlamento.

O ponto de discórdia: a fronteira entre Irlandas

O principal ponto de discórdia nas negociações a portas fechadas em Bruxelas foi o futuro da Irlanda do Norte, que partirá da UE junto com o resto do Reino Unido. Tanto o Reino Unido quanto a UE dizem que querem manter aberta a fronteira com a República da Irlanda, para preservar a paz conquistada com dificuldades na região. Eles discordaram sobre como conseguir isso, e a UE disse que a Irlanda do Norte teria que permanecer fortemente alinhada com suas próprias regras.

May disse que "nenhum primeiro-ministro do Reino Unido concordaria" com uma proposta que criasse uma fronteira aduaneira no mar da Irlanda. E Johnson tem resistido à ideia. Mas, na terça-feira, ele parecia estar se aproximando das demandas europeias, numa tentativa de levar as negociações a uma conclusão.

Os líderes da UE se reunirão em Bruxelas na quinta e sexta-feira e terão três opções: assinar um acordo; concordar em adiar a data do Brexit para depois de outubro; ou se preparar para uma saída súbita e descontrolada do Reino Unido do bloco.

Barnier disse a jornalistas antes da maratona de negociações: "Mesmo que o acordo seja difícil, cada vez mais difícil, para ser franco, ele ainda é possível nesta semana".

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Um diplomata europeu envolvido nas negociações disse na noite de terça-feira que "há luz no túnel, mas, no momento, ela vem apenas de tubos de neon, e não da saída". O diplomata falou sob condição de anonimato para discutir as negociações a portas fechadas.

A fronteira irlandesa provou ser uma das questões mais espinhosas que os negociadores enfrentam nos últimos três anos. A promessa de uma fronteira aberta é central ao Acordo da Sexta-feira Santa de 1998, que encerrou os 30 anos de violência sectária na Irlanda do Norte.

Hoje, a fronteira é quase invisível. Um motorista transitando entre Belfast e Dublin não precisa parar para qualquer verificação alfandegária ou controle de segurança. Não existem cabines de pedágio, câmeras, nem sequer uma placa de sinalização. O Brexit pode mudar tudo isso. Se o Reino Unido tiver seu próprio conjunto de tarifas e regulamentos, os europeus exigirão uma fronteira aduaneira para evitar contrabando e garantir a integridade de seu próprio mercado interno.

Mas ambos os lados temem que isso possa levar à violência.

Segunda tarefa: enfrentar o Parlamento

Durante todo o dia, ministros e legisladores britânicos entraram e saíram da residência oficial de Boris Johnson, no número 10 da Downing Street em Londres.

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Segundo algumas estimativas, Johnson deve enfrentar uma votação ainda mais apertada na Câmara dos Comuns do que May. O seu partido Conservador não tem mais a maioria, e o líder da oposição Jeremy Corbyn alertou que o seu partido Trabalhista não vai apoiar o Brexit de Johnson, não importando os detalhes (embora alguns rebeldes trabalhistas indicaram que podem apoiar um acordo).

Os defensores mais linha-dura do Brexit, chamados de "Spartans", também podem se voltar contra qualquer acordo que ultrapasse seus limites.