Os países que compõem os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e agora África do Sul) denunciaram nesta quinta-feira o uso da força na Líbia e defenderam a diplomacia e a negociação para a solução do confronto que dilacera o país africano. O tema permeou o terceiro encontro de cúpula do grupo, realizado na China, e foi tratado pelos cinco chefes de Estado nas declarações que deram à imprensa.
Anfitrião da reunião, o presidente Hu Jintao pediu o imediato cessar-fogo na Líbia, mas a proposta não consta do comunicado final dos líderes, divulgado no fim desta manhã na cidade chinesa de Sanya.
Esta foi a primeira cúpula que teve a participação da África do Sul, o novo integrante do clube. Dos cinco membros, a nação africana foi a única a votar a favor da resolução do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) que criou uma zona de exclusão área sobre a Líbia e deu sinal verde para o ataque estrangeiro às forças do ditador Muamar Kadafi. Os demais países do Brics se abstiveram na votação da ONU.
"Até a África do Sul, que votou a favor da resolução, acredita que é o momento de se voltar a um esforço diplomático", disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota. Segundo ele, um mês depois da adoção da resolução, não houve diminuição do nível de violência na Líbia. "É questionável se a população civil está mais protegida agora do que antes e há inquietação com os rumos que a crise líbia poderá tomar".
Na declaração aprovada durante o encontro, os cinco líderes se dizem "extremamente preocupados" com a turbulência no Oriente Médio e no Norte e Oeste da África. "Nós compartilhamos o princípio de que o uso da força deve ser evitado. Nós reafirmamos que a independência, a soberania, a unidade e a integridade territorial de cada nação devem ser respeitadas", prossegue o documento.
No caso específico da Líbia, os dirigentes manifestam a intenção de manter sua cooperação no CS da ONU, no qual todos os países dos Brics estão representados neste ano - China e Rússia são membros permanentes, enquanto Brasil, Índia e África do Sul ocupam cadeiras por período limitado. Também observam que todos os envolvidos no confronto líbio devem resolver suas diferenças pelo diálogo e por meios pacíficos.
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, comanda os esforços da União Africana (UA) de conseguir um cessar-fogo no país e a aprovação de um cronograma de transição. No almoço entre os líderes hoje, Zuma sentou-se ao lado da presidente Dilma Rousseff, a quem disse que a proposta havia sido aceita pelo ditador Muamar Kadafi, mas ainda encontrava resistência entre os rebeldes.
O cessar-fogo proposto pela UA seria a primeira etapa de um processo político que envolveria representantes do governo e dos rebeldes para definir a transição e, eventualmente, um novo regime, inclusive com a realização de eleições, disse Patriota.
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