A quantidade de países que formam o grupo do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – vai dobrar a partir de 2024 com a entrada de mais seis países, segundo anunciou o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, na manhã desta quinta (24) em Joanesburgo. A oficialização da ampliação do grupo ocorreu no último dia da XV Cúpula do Brics, realizada desde terça (22).
Passam a fazer parte do grupo a Argentina – que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma forte campanha –, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia.
Com essa adição, o Brics passará a contar com 11 membros, consolidando a presença no Oriente Médio e fortalecendo a representatividade na África e América Latina.
Lula enfatizou que a expansão resulta em uma participação combinada de 35% do PIB global em termos de paridade de poder de compra e abrange 46% da população mundial. Ele ressaltou que o bloco continuará aberto a futuras ampliações.
“Nossa diversidade fortalece a luta por uma nova ordem, que acomode a pluralidade econômica, geográfica e política do século XXI. Neste mundo em transição, o BRICS nos oferece uma fonte de soluções criativas para os desafios que enfrentamos. A relevância do BRICS é confirmada pelo interesse crescente que outros países demonstram de adesão ao agrupamento”, disse durante o discurso.
A nova configuração foi o desfecho de intensas negociações durante a cúpula em Joanesburgo, na qual líderes como Xi Jinping (China), Narendra Modi (Índia) e Ramaphosa estiveram presentes. O presidente russo Vladimir Putin participou virtualmente, devido a um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional relacionado a supostos crimes de guerra na Ucrânia.
A China desempenhou um papel fundamental na abertura do Brics a praticamente todos os países interessados em aderir, com apoio da Rússia e África do Sul. Brasil e Índia, por sua vez, defenderam um crescimento controlado, com critérios de seleção bem definidos.
“O BRICS continuará aberto a novos candidatos e, para isso, aprovamos também critérios e procedimentos para futuras adesões”, afirmou Lula.
A expansão também envolveu esforços diplomáticos do Brasil para obter apoio chinês à reforma do Conselho de Segurança da ONU. No texto final da cúpula, os países do Brics expressaram apoio a uma reforma da ONU, incluindo o Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-la mais democrática e representativa.
“Apoiamos uma reforma abrangente da ONU, incluindo o seu Conselho de Segurança, com vista a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e aumentar a representação dos países em desenvolvimento nos membros do Conselho para que possa responder adequadamente aos desafios globais prevalecentes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo o Brasil, a Índia e a África do Sul, a desempenhar um papel mais importante em assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo o seu Conselho de Segurança”, disse a Declaração de Joanesburgo assinada pelos países participantes.
Embora a adição de novos membros fosse almejada pela China, a entrada do Irã potencializa a dimensão antiamericana do grupo. O apoio chinês e russo também favoreceu o ingresso da Arábia Saudita e da Argentina, enquanto o Brasil, Índia e África do Sul obtiveram avanços nas negociações, visando reconhecimento mais substancial em assuntos internacionais.
“Por fim, dedico uma mensagem especial ao querido Alberto Fernández, presidente da Argentina e grande amigo do Brasil e do mundo em desenvolvimento. Continuaremos avançando lado a lado com nossos irmãos argentinos em mais um foro internacional”, concluiu Lula.
Também ficou definido que será criado um grupo de trabalho para avançar na desdolarização das negociações comerciais de comércio exterior entre países e a adoção de moedas de referência para as transações. Este é um pleito que Lula vem reafirmando a cada reunião desde o começo do ano.
Ainda nesta quinta (24), Lula terá duas reuniões bilaterais com a primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, e com o presidente do Irã, Ebrahim Raisi. No começo da tarde, o presidente segue para Luanda.