Na cúpula que comemora os dez anos de sua criação, os países que formam o Brics (Brasil, Índia, China e África do Sul) voltaram suas baterias contra as políticas protecionistas dos Estados Unidos. As lideranças presentes frisaram que as decisões unilaterais do governo Donald Trump põem em risco o crescimento da economia global.
"A comunidade internacional chegou, novamente, a uma nova encruzilhada", disse o presidente chinês, Xi Jinping, em discurso durante o fórum de negócios que deu início à décima reunião do Brics. "Devemos perseguir cooperação e economia aberta. A guerra comercial deve ser rejeitada, porque não haverá vencedores", completou.
A China é o principal alvo do governo americano, que já anunciou sobre taxas a produtos que equivalem a cerca de metade do valor importado do país asiático e ameaça taxar o restante. As sobretaxas atingem fortemente também países da Europa. O Brasil foi obrigado a aceitar cotas para a exportação de aço para o mercado americano.
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As lideranças do Brics pregaram uma ação conjunta contra o aumento do protecionismo, elevando o assunto a destaque na agenda do encontro, que tem como tema a colaboração para o crescimento inclusivo e a prosperidade compartilhada na quarta revolução industrial.
"Estamos nos encontrando aqui em um momento em que o sistema de comércio multilateral está enfrentando desafios sem precedentes", disse o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, acrescentando estar preocupado com o impacto das medidas protecionistas especialmente sobre os países em desenvolvimento.
"É um tema sobre o qual os países do Brics devem manifestar liderança bastante eficiente e vocal para defesa do comércio sujeito a regras e do multilateralismo internacional", afirmou durante a abertura do evento o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes.
“Nacionalismo xenófobo”
Nunes criticou ainda o crescimento de "nacionalismos xenófobos", que criminalizam a imigração. Ele não citou especificamente os Estados Unidos, mas o governo brasileiro já havia subido o tom na crítica à separação de filhos de imigrantes pelo governo americano.
As críticas aos Estados Unidos deixaram em segundo plano a celebração dos dez anos do grupo, criado em meio à crise econômica 2008 como um esforço conjunto para a recuperação dos países, que concentram 40% da população mundial.
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Em balanço feito em seu discurso, o presidente da África do Sul - que ocupa a presidência do Brics em 2018 - citou como principal realização do grupo a criação do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês, conhecido como banco do Brics), que até o momento desembolsou US$ 5,1 bilhões em empréstimos para países do bloco.
"Ao entrar na segunda década da cooperação entre os Brics, estamos determinados a expandir o papel do banco no desenvolvimento econômico e social", disse Ramaphosa.A cooperação nos investimentos externos entre os membros do grupo, porém, ainda é pequena, representando apenas 6% do volume de investimentos estrangeiros dos quatro países.
Posicionamento
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que não haverá um posicionamento mais duro por parte do presidente da República, Michel Temer, em relação à guerra comercial travada entre os Estados Unidos e a China, durante a 10ª Cúpula dos Brics, realizada na África do Sul. "A relação tanto com os Estados Unidos quanto com a China é importantíssima para o Brasil. São dois parceiros fundamentais", disse Padilha.
Temer não deve ir além de como o Itamaraty se posicionou no Brics, em defesa do multilateralismo e de organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC), e da declaração dada por ele em viagem ao México, por ocasião de encontro entre líderes do Mercosul e da Aliança para o Pacífico.
Além do programa oficial, Temer tem agendados encontros bilaterais com os presidentes da China, nesta quinta (26) e da África do Sul, na sexta (27). Com o primeiro, discutirá as taxas impostas à importação de frango brasileiro.
Ao fim do encontro, os membros do bloco assinarão acordos multilaterais, entre eles a criação de uma sede do banco dos Brics no Brasil e um acordo para o desenvolvimento da aviação regional nos países.
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