A Índia afirmou que conduziu ataques aéreos através da fronteira com o Paquistão, na região da Caxemira, no início da manhã desta terça-feira (26), em aparente retaliação a um ataque terrorista que matou 40 soldados indianos neste mês. A ação representa uma significativa escalada das tensões entre as duas potências nucleares.
Segundo a BBC, um ministro indiano afirmou que os ataques atingiram um campo de treinamento do grupo paquistanês Jaish-e-Mohammad (JeM), em Balakit, no Paquistão. Exército de Maomé, como é conhecido este grupo que busca fundir a Caxemira com o Paquistão, havia assumido a responsabilidade pelo ataque contra os paramilitares indianos, o pior desde o começo da insurgência na região.
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Os aviões da Força Aérea Indiana entraram no Paquistão às 2h55 da manhã, horário local (19h55 de segunda-feira em Brasília), por três minutos, segundo o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi. Autoridades indianas disseram ter usado 10 aeronaves para a missão.
O ministro das Relações Exteriores da Índia, Vijay Gokhale, disse em uma coletiva de imprensa que os ataques mataram 300 militantes, incluindo 25 comandantes, e evitaram vítimas civis.
"Inteligência credível foi recebida de que o JeM estava planejando mais ataques suicidas na Índia. Em face do perigo iminente, um ataque preventivo tornou-se absolutamente necessário", disse ele em um comunicado.
O porta-voz do Exército do Paquistão, Asif Ghafoor, contestou essa informação, dizendo que o bombardeio não causou vítimas ou danos a estruturas. Segundo ele, jatos paquistaneses forçaram as aeronaves indianas a "se retirar às pressas", fazendo-os lançar o ataque em uma área aberta.
Qureshi disse, em uma entrevista coletiva televisionada, que a Índia violou a 'Linha de Controle". "A Índia cometeu uma agressão contra o Paquistão hoje – uma agressão grave", disse o ministro.
Escalada das tensões
A última vez que a Força Aérea Indiana cruzou a linha de controle intencionalmente e publicamente para realizar ataques aéreos foi em 1971", disse Vipin Narang, professor associado de ciência política no MIT, referindo-se à última guerra indo-paquistanesa.
As relações entre os arqui-rivais históricos estão extremamente tensas desde o atentado suicida, reivindicado pelo grupo terrorista paquistanês Jaish-e-Mohammed, em 14 de fevereiro. É a pior escalada de agressões desde 2001, quando o Paquistão e a Índia moveram mísseis balísticos e tropas para suas fronteiras após um ataque ao Parlamento em Nova Delhi, que também foi atribuído a Jaish-e-Mohammad.
"Esta é a primeira vez que a Índia cruza a linha de controle e, a partir dela, a fronteira internacional", disse G. Parthasarathy, ex-Alto Comissário da Índia no Paquistão. "Em 2001, implantamos o exército em nossas fronteiras, mas não houve ação militar".
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O primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que concorrerá nas eleições gerais de abril, está sob enorme pressão após culpar o Paquistão pelo pior ataque às forças de segurança na Caxemira em várias décadas, e os mercados reagiram depois que Modi prometeu uma "resposta adequada".
Islamabad negou qualquer papel no ataque de 14 de fevereiro. Cinco dias depois, Imran Khan, primeiro-ministro do Paquistão, prometeu retaliar se Nova Délhi lançasse algum tipo de resposta militar. O chefe do exército paquistanês, o general Qamar Javed Bajwa, visitou as tropas ao longo da "Linha de Controle" para verificar sua preparação, de acordo com a Inter-Services Public Relations, assessoria de imprensa das Forças Armadas do Paquistão.
"Meu instinto me diz que haverá alguma forma de escalada", disse por telefone Kamran Bokhari, diretor de Estratégia e Programas do Centro de Política Global da Universidade de Ottawa. "Não há como o Paquistão não combater. O Paquistão terá que revidar. Não estou dizendo que isso levará a uma guerra total, mas não vejo que isso acabou".
Tanto a Índia quanto os EUA veem o Paquistão como um abrigo seguro para grupos terroristas e apontam para o fato de que a liderança de grupos como JeM e Lashkar-e-Taiba, que realizaram ataques em Mumbai em 2008, ainda vivem livremente no Paquistão.
Quais as causas da disputa na região
Índia e Paquistão disputam a região da Caxemira, no Himalaia, desde 1948. Ambos os países reivindicam o território inteiro como seu, enquanto governam parte dele. Grupos militantes nos territórios controlados pela Índia lutam pela independência ou pela junção ao Paquistão. Em fases anteriores da militância, muitos dos combatentes atravessavam do Paquistão para a Índia.
A Caxemira faz parte do único estado de maioria muçulmana da Índia. Em 2012, o número de mortes relacionadas com a militância na Caxemira caiu para o menor de todos os tempos. Mas a violência aumentou nos últimos anos, de acordo com dados do governo indiano, especialmente após a dura resposta da Índia a protestos em 2016. O ano passado foi o mais letal na Caxemira em uma década. Também houve um aumento no fluxo de recrutas locais para grupos militantes, com mais de 100 se unindo à insurgência.
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A Índia acusa o Paquistão de dar apoio material aos militantes. Islamabad diz que só oferece apoio moral e diplomático à Caxemira muçulmana.
Em 2019 já são 50 mortos na região. Em 2018 foram 100 civis assassinados em outros episódios relacionados ao conflito.
A tensão na Caxemira já levou a três guerras e deixou mais de 45 mil mortos. Preocupa o fato de os dois países serem potências nucleares.
*Com informações do Washington Post e Estadão Conteúdo
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