O presidente russo, Vladimir Putin, e o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, em imagem de 2010: amizade foi abalada pelos desdobramentos da batalha de Bakhmut| Foto: Presidência da Rússia/Wikimedia Commons
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Bakhmut, cidade no oblast de Donetsk, é desde o final do ano passado o principal palco da guerra deflagrada pela Rússia contra a Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já disse que a queda de Bakhmut seria um golpe duro para a resistência de Kiev, pois abriria caminho para a Rússia ganhar ainda mais terreno no leste do país.

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A principal força de assalto russa nessa batalha é o grupo mercenário Wagner, cujo líder, Yevgeny Prigozhin, é aliado do presidente Vladimir Putin. O grupo paramilitar recrutou presos em penitenciárias russas para lutar na Ucrânia, com a promessa de liberdade após servirem na guerra.

Na semana passada, Prigozhin informou que mais de 5 mil presos receberam indulto das suas penas após o término dos seus contratos para lutar pelo Wagner.

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Entretanto, nos últimos meses surgiram vários indícios de desentendimentos entre o grupo mercenário e o Kremlin, o que pode comprometer os planos russos na Ucrânia.

Prigozhin causou constrangimentos a Putin ao reivindicar vitórias em batalhas antes que as próprias forças armadas da Rússia se pronunciassem, fez críticas públicas ao alto escalão militar russo e reclamou de falta de munição e apoio. Também se queixou de que não tinha mais acesso direto a Putin.

A batalha de Bakhmut já proporcionou grandes perdas ao Wagner e, após semanas de discurso confiante, Prigozhin afirmou na quarta-feira (29) que seu contingente na cidade ucraniana sofreu “graves danos”.

O fato de Putin ter admitido que o grupo mercenário permanecesse com pouco ou nenhum apoio numa batalha com grandes perdas fez surgir a teoria de que o objetivo do presidente russo é evitar que Prigozhin se torne popular demais e busque enfrentá-lo na eleição presidencial de 2024.

Essa teoria foi corroborada pelo analista George Barros, chefe da equipe de inteligência geoespacial que monitora a Rússia e a Ucrânia no Instituto de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês).

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“Atualmente, nós avaliamos, devido às disputas internas entre o Ministério da Defesa russo e Yevgeny Prigozhin, que os russos estão usando Bakhmut para em grande parte destruir o grupo Wagner e, por assim dizer, colocar Prigozhin ‘no seu devido lugar’”, afirmou, durante um recente debate online sobre a Ucrânia. As declarações foram reproduzidas pelo jornal britânico The Independent.

O desentendimento entre Prigozhin e Putin seria tão profundo que o líder do grupo mercenário estaria disposto a voltar suas atenções para a África, onde o Wagner atua no Sudão, na República Centro-Africana, no Mali e em outros países, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg.

No Telegram, Prigozhin disse que não sabia do que “a Bloomberg está falando”. “Aparentemente, eles sabem melhor do que eu o que vamos fazer em seguida. Enquanto formos necessários para nossa nação, seguiremos lutando no território da Ucrânia”, rebateu.

Um eventual rompimento com o Wagner poderia comprometer a ofensiva russa no país vizinho, visto que, como destacou George Barros, as tropas do Kremlin estão exauridas.

“As forças armadas convencionais russas foram derrotadas. Se considerarmos as forças russas como um todo, todas as unidades de combate importantes [...] já lutaram na Ucrânia no ano passado, e todas sofreram níveis variados de perdas e foram reagrupadas até certo ponto”, explicou, citando que a Rússia está sendo obrigada a despachar para o campo de batalha homens cada vez mais inexperientes, “o que é muito bom para a Ucrânia”.

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Curiosamente, um oficial de inteligência ucraniano informou à CNN que prisioneiros estão sendo recrutados diretamente pelo Ministério da Defesa russo para lutar como “bucha de canhão” na Ucrânia. Ou seja, no seu desespero, o Kremlin parece disposto a deixar de “terceirizar” o que o Wagner vinha fazendo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]