Washington - As negociações entre a Casa Branca e os líderes no Congresso dos Estados Unidos para manter o governo americano funcionando não haviam sido concluídas ontem, a duas horas do fim do prazo final para um acordo sobre o Orçamento.
Até o fechamento desta edição, às 23 h (horário de Brasília), os líderes no Congresso estavam revendo o texto final de um acordo que evitaria o desligamento do governo federal. O documento previa mais cortes de despesas, como queriam os republicanos, mas também fazia concessão sobre direito ao aborto, defendido pelos democratas.
Se aceito, o montante de cortes de gastos para 2011 seria superior a US$ 37 bilhões, valor que os democratas tinham acordado na noite de quinta-feira, mas fica aquém dos US$ 40 bilhões pedidos pelo presidente da Câmara, o republicano John A. Boehner. Os detalhes desse acordo ainda não estavam esclarecidos.
Impasse
No começo da manhã de ontem, o deputado John Boehner (Republicano por Ohio), líder da Câmara, disse que não havia acordo sobre o montante que precisa ser cortado. Segundo ele, o montante era justamente o elemento crucial que permanecia em disputa com os democratas. "Ainda estamos conversando", disse. "A luta para valer é sobre os gastos."
Mais cedo, um assessor republicano disse que não existia consenso sobre o tamanho dos cortes, o que foi confirmado por Boehner depois. Segundo ele, as diferenças sobre os itens políticos na medida de gastos ou restrições sobre o uso de dinheiro para programas específicos tinham diminuído. No entanto, o assessor não forneceu mais detalhes.
No fim da tarde, Reid e Boehner afirmaram, numa declaração conjunta, que suas diferenças tinham sido "reduzidas", mas que nenhum acordo fora alcançado. "Vamos continuar a trabalhar durante a noite para tentar resolver nossas diferenças restantes", dizia o comunicado.
Disputa
Se o Congresso não chegou a um acordo sobre a proposta orçamentária até o fim da sexta-feira, o setor público norte-americano ficará paralisado por falta de recursos pela primeira vez em 15 anos.
O que está em jogo, declarou o presidente Barack Obama, é a incipiente recuperação econômica do país. Segundo ele, centenas de milhares de funcionários públicos ficarão sem trabalho, temporariamente, e algumas pessoas deixariam de receber seus salários. Ficarão fechados 394 parques nacionais, além de museus e monumentos. A Securities and Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários americana, disse que irá operar de maneira muito reduzida.
Embora Obama não tenha enumerado as diferenças entre os membros do Congresso a respeito da proposta, os democratas disseram ao longo do dia que o ponto de discórdia girava em torno de uma série de disposições introduzidas pelos republicanos, incluindo uma medida para evitar que os recursos públicos sejam utilizados para fazer abortos. Os republicanos diziam que as medidas estavam em linha com as disposições apoiadas pelos democratas anteriormente.
Responsabilidades
Os republicanos disseram ainda que a culpa pela paralisação do setor público iria recair sobre os ombros do Partido Democrata. O senador republicano Mitch McConnell, de Kentucky, disse que o projeto de lei para providenciar financiamento temporário ao governo dos EUA, aprovado anteontem pela Câmara dos Representantes, era pouco controverso, visto que tinha recebido o apoio de senadores democratas anteriormente.
A paralisação, disse o governo, afetaria cerca de 800 mil funcionários federais e tem o potencial para interromper a recuperação econômica. As restituições fiscais devem ser interrompidas, o pagamento a soldados suspenso temporariamente e alguns empréstimos à habitação não devem ser processados. Tudo isso ocorre enquanto a economia está se recuperando de uma profunda recessão.