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Desde o primeiro momento, a Rússia tem procurado fazer uma lavagem cerebral na sua população a respeito da guerra na Ucrânia, ao repetir o argumento de que a invasão é uma “operação militar especial” com o objetivo de “desnazificar” o país vizinho; quem contesta essa teoria é prontamente reprimido.
Uma frente dessa guerra de propaganda mira o público infantil. No fim de semana, usuários de redes sociais de países do Ocidente manifestaram surpresa com a grande variedade de brinquedos à venda na Rússia com a letra latina Z, que identifica veículos militares das tropas russas na Ucrânia.
Miniaturas de caminhões militares, petroleiros e lançadores de mísseis estão entre as opções numa loja online russa, com preços que variam de 602 a 818 rublos (entre R$ 43 e R$ 59).
A doutrinação dentro das escolas é a arma principal dessa estratégia. No início de março, poucos dias após a invasão à Ucrânia, o Ministério da Educação da Federação Russa divulgou um projeto de “aulas abertas”, com vídeos online para que os alunos sejam “informados por que a missão de libertação na Ucrânia é uma necessidade”.
De acordo com um comunicado da pasta, os estudantes são instruídos “sobre o perigo que a OTAN [aliança militar do Ocidente] representa para nosso país, por que a Rússia defende a população civil das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk [áreas ucranianas separatistas apoiadas por Moscou]” e também a “distinguir a verdade da mentira em meio ao enorme fluxo de informações, fotos e vídeos disponíveis na internet hoje”.
Os professores foram informados a respeito de um link no site do ministério com “materiais” para “conduzirem uma aula aberta na sua turma”.
Rebekah Koffler, ex-funcionária da Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos e autora do livro “Putin's Playbook: Russia's Secret Plan to Defeat America” (“O manual de Putin: o plano secreto da Rússia para derrotar os Estados Unidos”), detalhou à Fox News o que é ensinado nessas aulas.
“Esta é uma missão especial de manutenção da paz. Não é uma guerra. O objetivo é conter os nacionalistas que oprimem a população que fala russo. E estamos protegendo o povo de Donbass do genocídio. Isso é o que os russos estão dizendo”, disse Koffler, que é de origem russa e cresceu na União Soviética – ela classificou as “aulas abertas” como uma doutrinação nos “moldes soviéticos”.
A lavagem cerebral de crianças não começou a ser implementada agora pelo governo de Vladimir Putin e não está restrita à Rússia: após a anexação da Crimeia, em 2014, jovens da península ucraniana passaram a ser submetidos a um intenso processo de “educação política” com o objetivo de cortar os vínculos com a Ucrânia e imprimir uma identidade russa à sua formação.
Uma reportagem de maio de 2020 do Ucranian Weekly, jornal da comunidade ucraniana nos Estados Unidos, revelou que desde 2016 os russos haviam investido mais de 100 milhões de rublos (o equivalente hoje a R$ 7,2 milhões) num programa para transformar crianças da região em “novos cidadãos” e “patriotas da Crimeia”.
Iryna Sedova, integrante do Grupo de Direitos Humanos da Crimeia, disse ao periódico que a iniciativa abrangia eventos, competições, concertos, acampamentos e aulas especiais aparentemente inofensivos, mas que na verdade teriam foco na “educação militar-patriótica” defendida por Putin, numa violação dos termos da Convenção de Genebra.
Essa doutrinação, aliada à Yunarmia, exército juvenil que “recruta” crianças a partir de 8 anos de idade, fez com que muitas crianças da Crimeia crescessem com o sonho de ingressar nas forças russas.
“Elas pensam que estão entrando voluntariamente no exército dos invasores, mas na verdade elas não têm escolha, com todos ao seu redor dizendo que é bom servir à Rússia e que elas têm que defendê-la com armas nas mãos”, lamentou Sedova.