Neurologistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, estão se preparando para iniciar o maior estudo de todos os tempos sobre as misteriosas experiências de quase-morte -- eventos em que pessoas dizem ter ido até a fronteira do Além e voltado para contar a história. O trabalho vai monitorar pacientes que passam raspando pela morte em solo britânico, em países da Europa continental e nos Estados Unidos, anunciou a instituição.
O projeto Aware (sigla inglesa de "consciência durante ressuscitação") será liderado por Sam Parnia, especialista em estudos sobre a consciência humana durante a morte clínica. Após 18 meses de um estudo-piloto no Reino Unido, a iniciativa está sendo ampliada para outros países.
"Ao contrário do que se acredita popularmente, a morte não é um momento específico. É um processo que começa quando o coração pára de bater, os pulmões não funcionam mais e o cérebro deixa de registrar atividade. É o que chamamos de parada cardíaca, a qual, do ponto de vista biológico, é idêntica à morte clínica", disse Parnia em comunicado oficial. "Durante uma parada cardíaca, todos esses critérios estão presentes. Segue-se então um período, que pode durar de alguns segundos a uma hora ou mais, no qual esforços médicos de emergência podem fazer o coração voltar a funcionar e reverter o processo. O que as pessoas experimentam durante esse período nos dá uma janela única para entender o que acontece conosco durante o processo de morrer."
Fique longe da luz
É nessas condições que entre 10% e 20% dos pacientes relatam passar por fenômenos como o aparecimento de um túnel de luz, o surgimento de um 'filme' de toda a sua vida diante de seus olhos ou a capacidade de ver e ouvir tudo o que acontece no quarto de hospital, às vezes "de cima" do próprio corpo, como se o paciente estivesse flutuando.
O objetivo dos médicos é usar tecnologias sofisticadas para estudar diretamente o cérebro e o estado de consciência dos que sofrem uma parada cardíaca, para tentar confirmar essas afirmações. A idéia é, ao mesmo tempo, usar esses conhecimentos para melhorar as condições gerais de saúde mental e física desses pacientes.
Alguns dos achados mais recentes da neurociência apontam como possível explicação para as experiências de quase-morte uma pane na região do cérebro responsável pelo senso de identidade e autopercepção do corpo. Se a hipótese estiver correta, a pessoa à beira de morrer perderia a capacidade de separar seu próprio organismo do ambiente externo, levando à impressão de se ver "de cima".