Após decisão tomada pelo Parlamento britânico de não endossar uma intervenção militar na Síria, a possibilidade de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, formar uma coalizão internacional para uma ação contra o regime de Bashar Assad foi reduzida, acredita Juan Cole, professor de História da Universidade de Michigan e especialista em questões do Oriente Médio.
Cole afirma que a questão mais interessante, agora, é saber se Obama vai agir sozinho. "O instinto de Obama provavelmente é o de não agir sem apoio internacional. Ele foi um crítico da invasão do Iraque por George W. Bush; não sei se Obama chegou a chamar Bush de cowboy, mas esse era o tom de suas críticas", acrescenta.
O historiador norte-americano observa que a situação na Europa é diferente da dos EUA. "Eles levam as instituições internacionais mais a sério do que nós", observa. E lembrou que a Carta da ONU só admite ações militares em duas circunstâncias: a de autodefesa a de uma intervenção autorizada pelo Conselho de Segurança.
Na falta de qualquer dessas condições, o historiador sugeriu a hipótese de Obama esperar para levar o caso à Assembleia Geral das Nações Unidas, que se reúne em setembro.
Para Cole, as condições para uma intervenção militar internacional na Síria são muito diferentes daquelas que permitiram a ação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra o regime do coronel Muamar Kadafi na Líbia em 2011.
"Naquela ocasião, havia uma resolução do Conselho de Segurança da ONU e um pedido da Liga Árabe. Desta vez, a Liga Árabe condenou o ataque com armas químicas que matou mais de mil pessoas na Síria, mas também pediu que não haja nenhuma intervenção de fora no conflito."
Ele também disse que "se Obama agir, a França deverá agir junto. O país europeu está muito descontente com a situação na Síria". Na manhã de sexta-feira, o presidente francês, François Hollande, reiterou promessa feita anteriormente de não deixar impune o episódio no qual o governo sírio é acusado pelas potências ocidentais de fazer uso deliberado de armas químicas contra a população civil.
Segundo Cole, entre os obstáculos a uma intervenção militar dos EUA na Síria encontram-se os informes contraditórios dos serviços de espionagem norte-americanos sobre o que aconteceu em Ghouta, nos arredores de Damasco, em 21 de agosto. Apesar de declarações de várias autoridades norte-americanas, entre elas o vice-presidente Joe Biden e a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, de que "não há dúvidas" de que o regime de Bashar Assad ordenou o ataque, informações vazadas pelos serviços de inteligência dos EUA colocam essas afirmações em dúvida.