Tensão
Inspetores da ONU deixam a Síria após fala de Obama
O grupo de inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) que estava na Síria para investigar o suposto uso de armas químicas pelo governo de Bashar Assad deixou o país na madrugada de deste sábado, horas depois de o presidente Barack Obama declarar que os EUA consideram uma ação "limitada" contra o regime sírio. "Estamos esperando um ataque a qualquer momento", declarou uma autoridade da área de segurança da Síria.
Em Damasco, forças militares se preparam para uma possível intervenção aérea. Na manhã deste sábado, a TV estatal Síria transmitiu imagens de soldados em treinamento e de caças e tanques em ação. As ruas da capital Síria ficaram praticamente vazias.
Os inspetores da ONU, que saíram do país pela fronteira com o Líbano, devem reportar diretamente ao chefe das Nações Unidas, Ban Ki-moon, suas conclusões sobre o suposto ataque no dia 21 de agosto, com base em amostra coletadas no subúrbio de Damasco.
A administração de Obama disse que não há necessidade de esperar pelos resultados, alegando ter claras evidências de que o regime sírio é o responsável pelo ataque químico, que matou 1.429 pessoas, 426 delas crianças.
1.429 é o número de mortos em explosões de armas químicas provocadas pelo governo sírio em 21 de agosto, de acordo com os Estados Unidos. O ataque pavimentou o caminho de uma ação militar internacional de retaliação.
Após decisão tomada pelo Parlamento britânico de não endossar uma intervenção militar na Síria, a possibilidade de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, formar uma coalizão internacional para uma ação contra o regime de Bashar Assad foi reduzida, acredita Juan Cole, professor de História da Universidade de Michigan e especialista em questões do Oriente Médio.
Cole afirma que a questão mais interessante, agora, é saber se Obama vai agir sozinho. "O instinto de Obama provavelmente é o de não agir sem apoio internacional. Ele foi um crítico da invasão do Iraque por George W. Bush; não sei se Obama chegou a chamar Bush de cowboy, mas esse era o tom de suas críticas", acrescenta.
O historiador norte-americano observa que a situação na Europa é diferente da dos EUA. "Eles levam as instituições internacionais mais a sério do que nós", observa. E lembrou que a Carta da ONU só admite ações militares em duas circunstâncias: a de autodefesa a de uma intervenção autorizada pelo Conselho de Segurança.
Na falta de qualquer dessas condições, o historiador sugeriu a hipótese de Obama esperar para levar o caso à Assembleia Geral das Nações Unidas, que se reúne em setembro.
Para Cole, as condições para uma intervenção militar internacional na Síria são muito diferentes daquelas que permitiram a ação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra o regime do coronel Muamar Kadafi na Líbia em 2011.
"Naquela ocasião, havia uma resolução do Conselho de Segurança da ONU e um pedido da Liga Árabe. Desta vez, a Liga Árabe condenou o ataque com armas químicas que matou mais de mil pessoas na Síria, mas também pediu que não haja nenhuma intervenção de fora no conflito."
Ele também disse que "se Obama agir, a França deverá agir junto. O país europeu está muito descontente com a situação na Síria". Na manhã de sexta-feira, o presidente francês, François Hollande, reiterou promessa feita anteriormente de não deixar impune o episódio no qual o governo sírio é acusado pelas potências ocidentais de fazer uso deliberado de armas químicas contra a população civil.
Segundo Cole, entre os obstáculos a uma intervenção militar dos EUA na Síria encontram-se os informes contraditórios dos serviços de espionagem norte-americanos sobre o que aconteceu em Ghouta, nos arredores de Damasco, em 21 de agosto. Apesar de declarações de várias autoridades norte-americanas, entre elas o vice-presidente Joe Biden e a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, de que "não há dúvidas" de que o regime de Bashar Assad ordenou o ataque, informações vazadas pelos serviços de inteligência dos EUA colocam essas afirmações em dúvida.